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Crônicas, seguros e um pouco de tudo

Opinião|Um roubo cinematográfico

O assalto cinematográfico de Viracopos e as apólices que podem cobrir esse tipo de ocorrência.

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Atualização:

Fazia tempo que ninguém tentava alguma coisa parecida, na vida real ou no cinema. O roubo de cinco milhões de dólares em dinheiro, dentro de malotes, no aeroporto de Viracopos, daria um belo roteiro para um filme daqueles do final dos anos 1960, em que bandidos altamente sofisticados assaltavam o mais inesperado dos alvos e fugiam engando a polícia que chegava perto, mas não conseguia pegá-los.

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A ação durou pouco mais de cinco minutos. Os assaltantes chegaram numa caminhonete clonada, fortemente armados, e não tiveram dificuldades para render os vigilantes e funcionários próximos. Carregar o dinheiro e colocá-lo na caminhonete foi a parte mais fácil. Menos de dez minutos depois tinham sumido sem deixar rastros e, como acontece regularmente nos assaltos brasileiros, quando a notícia foi ao ar, ninguém tinha sido preso e a polícia não tinha qualquer pista dos assaltantes.

Impressionante como a ação aconteceu rapidamente e como ninguém da escolta, da companhia de transporte de valores, da companhia de aviação ou do aeroporto estava mais atento ou ao menos imaginando que algo no gênero pudesse ser verdade.

Era. E os ladrões foram embora com cinco milhões de dólares embarcados em Guarulhos para serem transferidos para a Suíça, o que leva à pergunta de porquê estavam fora da aeronave no aeroporto de Viracopos.

Como não tenho acesso aos procedimentos para transporte de grandes somas de dinheiro para o exterior, vou pular o capítulo. O fato é que o dinheiro estava fora do avião e os ladrões, evidentemente, sabiam disso. Então, familiarizados com o roteiro, só precisaram entrar no aeroporto, a bordo da caminhonete falsa, render o pessoal em volta, pegar os malotes e cair fora.

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Precisão cirúrgica e sucesso absoluto. O resto é a prova de que o Brasil está completamente desestruturado em todos os níveis da sociedade e que não há nada que se possa fazer para reverter o quadro no curto prazo, pelo menos na área da segurança pública. Os bandidos, incentivados pelos exemplos que vêm de cima, se apossaram do país e, ao que parece, não é apenas no Rio de Janeiro que eles dão as cartas.

O aeroporto de Viracopos fica próximo de Campinas, a menos de cem quilômetros da Capital de São Paulo. É verdade que a região há muito tempo se converteu numa das mais violentas do Estado, com sítios, fazendas, casas de campo, residências, indústrias, depósitos e o mais que se pensar assaltado ou invadido, inclusive com assassinatos de cidadãos comuns e prefeitos para deixar mais trágica a história.

No caso do assalto dos cinco milhões de dólares é evidente que os ladrões sabiam da remessa do dinheiro, o que leva à conclusão de que tiveram pelo menos informação privilegiada de alguém a par da operação. Não houve hesitação ou dúvida. Entraram com a caminhonete e foram diretamente para onde estavam os malotes. Quer dizer, eles sabiam o local exato onde os dólares estariam e qual o melhor momento para roubá-los.

Operações de transportes de valores elevados costumam ser seguradas. Existe um seguro específico para o risco chamado seguro de transporte de valores. E existe um segundo seguro, chamado seguro de fidelidade, que cobre eventos desta natureza.

Por que duas apólices? Se ficar comprovada a participação de funcionários da empresa responsável na ação criminosa, o seguro de transporte de valores não indeniza. Neste caso a indenização fica a cargo da apólice de seguro fidelidade, que indeniza os prejuízos decorrentes de ações de funcionários dos responsáveis que causam prejuízos a eles ou a terceiros.

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Não é crível que uma operação desta magnitude não seja segurada. Por outro lado, pela sua improbabilidade, é possível que o seguro não tenha sido contratado.  O que é importante é os envolvidos entenderem como aconteceu e identificar os pontos vulneráveis deste tipo de operação. Além disso, o transporte e o acondicionamento do  dinheiro deve ser revisto para evitar o ocorrido, quando o dinheiro ficou desprotegido pelo tempo necessário para os ladrões roubá-lo.

Opinião por Antonio
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