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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|De gole em gole

Saúde! Nada melhor do que um bom vinho para espantar o frio que tem feito nas últimas semanas.

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Atualização:

O consumo anual, de dois litros por pessoa, ainda é modesto por aqui, mas vem crescendo. Neste ano deverá ser 10% mais alto do que em 2009. O diretor de curso da Associação Brasileira de Sommeliers, Arthur Azevedo, atribui o aumento de interesse pela bebida a dois fatores. O primeiro foi a divulgação de pesquisas mostrando que uma tacinha por dia "faz bem pro coração". O outro vem lá de trás. Tem a ver com a abertura do mercado interno, em 1991, pelo governo Collor. Mas é preciso ligar esse avanço com mudanças de hábitos de consumo, que estão associadas à ascensão das classes médias.

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O Liebfraumilch, vinho branco alemão, ainda hoje encontrado nos supermercados, foi o primeiro a ser consumido em massa pelas camadas emergentes do Brasil. Depois dele vieram outros produtos alemães, nem sempre de boa qualidade, embalados naquelas famigeradas garrafas azuis. Mas, em seguida, o paladar do consumidor brasileiro médio ficou mais exigente e, assim, foi aberta a porteira para vinhos mais bem cuidados, da Europa, do Chile, da Argentina, dos Estados Unidos, da Austrália e até da África do Sul. São produtos que vêm conquistando o brasileiro não só pela qualidade, como também pelo preço. Hoje é possível encontrar vinhos honestos na faixa dos R$ 20.

As estatísticas do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) mostram que a venda de rótulos nacionais cresceu 12% em apenas dois anos: 2008 e 2009. Entre os importados, no mesmo período, o aumento foi bem menor, de 4%. A valorização do real e a crise econômica da Europa, onde os estoques vêm se acumulando, estão derrubando ainda mais os preços. São fatores que deverão puxar substancialmente as importações até o final do ano. Somente no primeiro semestre, elas aumentaram 33% quando comparadas ao primeiro semestre de 2009.

Nada menos que 85% dos vinhos produzidos no Brasil são do tipo "vinho comum" ou "vinho de mesa", que no passado contribuíram para afastar o consumidor em consequência da baixa qualidade. Mas esse perfil está mudando. Desde 2000, as centenárias vinícolas gaúchas estão se modernizando, trabalhando com cepas selecionadas, e têm obtido produtos bem melhores, especialmente na classe dos espumantes. Empresas de Santa Catarina e do Vale do São Francisco também estão apostando na qualidade.

Além das condições climáticas nem sempre favoráveis, um dos mais sérios desafios do setor é derrubar a elevada carga tributária, que encarece o produto ao nível do insuportável. As avaliações feitas pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) dão conta de que 54,73% do preço do vinho no varejo corresponde a impostos.

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Apesar desses e outros obstáculos, a estratégia do investimento na qualidade parece estar dando certo. No início de julho, uma degustação feita por 40 especialistas em Londres selecionou oito rótulos brasileiros da uva Merlot entre os dez melhores do mundo. Outro bom exemplo está na crescente aceitação dos espumantes fabricados no Sul do País, cujas vendas praticamente dobraram entre 2004 e 2009. /COLABOROU ISADORA PERON

Confira

Aí está a perda de força da inflação. Foi de zero por cento em junho e de 0,01% em julho. O principal fator que empurrou a inflação para baixo foi a redução dos preços dos alimentos, situação que não se repetirá no resto do ano. Os preços dos alimentos dispararam nos primeiros meses do ano pelo excesso de chuvas. Agora, estão voltando ao normal.

Como ficam os juros. A principal consequência dessa inflação mais baixa é a perspectiva de redução dos juros. É mais provável que o Banco Central não aumente a Selic na reunião de 1º de setembro.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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