EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Despesolândia

Nos cálculos apontados em um relatório de 58 páginas, o Tribunal de Contas da União (TCU) verificou que as desonerações, os subsídios e outras renúncias fiscais atingiram R$ 172,6 bilhões em 2012 e R$ 203,7 bilhões no ano passado. O documento teve como relator o ministro Raimundo Carreiro.

PUBLICIDADE

Foto do author Celso Ming
Atualização:

Os números de 2013 correspondem a 4,2% do PIB, a 17,2% da arrecadação do Tesouro e a 37,2% das exportações do Brasil no ano.

Carreiro. A conta dos subsídios (FOTO: Dida Sampaio/Estadão)  Foto: Estadão

PUBLICIDADE

São magnitudes impressionantes, bem superiores às apontadas pelo Ministério da Fazenda. Mas o que importa aqui não são eventuais divergências metodológicas e a melhor precisão dos cálculos. É avaliar até que ponto essas bondades são eficientes.

O ponto de partida para a distribuição de desonerações e subsídios é o de que cabe ao governo criar demanda e reduzir os custos das empresas não só em tempo de crise, mas, também, para garantir o desenvolvimento de regiões relativamente pobres, como o Nordeste e a Amazônia. Trata-se não só de criar e preservar empregos, mas, também, de garantir um mínimo de competitividade ao setor produtivo que opere em condições adversas. Em princípio, nada de errado na distribuição de favores fiscais. Faz parte da política de qualquer governo. No caso do Brasil, há duas graves distorções a apontar.

A primeira delas é a baixa transparência dessas transferências. A divergência estatística já é sintoma de que nem o governo tem clareza de como gasta e de como opera. O primeiro passo para esclarecer a natureza e o volume dessas operações seria registrá-los no orçamento e ser rigoroso na sua execução. Mas essa é uma proposta técnica que não se sobrepõe às razões politiqueiras que levam o governo a preferir comportamento opaco a tantas coisas.

A segunda distorção a apontar é a baixa eficácia desses procedimentos. Apesar do enorme despejo de recursos para os apadrinhados de sempre, a atividade econômica continua tendo desempenho fortemente insatisfatório. Os custos logísticos da Zona Franca de Manaus são maiores do que os benefícios fiscais que recebe. A indústria brasileira, com as exceções de sempre, está definhando. As montadoras de veículos, que está entre os setores que mais recebem favores oficiais, continuam produzindo as carroças denunciadas em 1990 pelo presidente Collor, a custos muito superiores aos da concorrência externa, e seus cartolas estão sempre em Brasília, de pires na mão.

Publicidade

Se esses recursos fossem utilizados diretamente no desenvolvimento da infraestrutura, os benefícios para o crescimento econômico e para a atividade das empresas, em redução de custos e em ganhos de produtividade, seriam muito maiores do que essa política de favores de qualidade ruim.

No mais, não faz sentido manter no ventilador o argumento de que essa política concorre para produzir empregos, quando a conjuntura é de pleno-emprego e de escassez de mão de obra.

CONFIRA:

 Foto: Estadão

Em abril foram abertas 105,4 mil vagas de trabalho com carteira assinada, bem menos do que o esperado. Confirma-se a atividade econômica relativamente fraca no início do segundo trimestre. É mais um fator que pressiona por manter os juros básicos (Selic) no nível de 11,0% ao ano.

Acima do teto

Publicidade

A inflação de maio tende a ficar mais baixa do que o 0,67% registrado em abril, mas o acumulado em 12 meses deve saltar para acima dos 6,3%. É praticamente certo que em junho furará o teto da meta, de 6,5%.

 

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.