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Energia solar pode ser gerada domesticamente, com enormes vantagens. Mas seu uso intensivo esbarra em diversos fatores contrários

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Atualização:

Se uma área de 4.761 km², equivalente a apenas 0,055% do território brasileiro, fosse coberta com placas fotovoltaicas, o Brasil teria energia solar suficiente para suprir seu consumo anual de eletricidade. Ou, de outra forma, a Usina Hidrelétrica de Itaipu geraria o dobro da energia produzida hoje se o seu lago fosse coberto com tais painéis que convertem luz solar em eletricidade.

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Os cálculos foram elaborados por Ricardo Ruther, coordenador do Grupo de Pesquisa Estratégica em Energia Solar da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC): "Claro que não são propostas nem técnica nem economicamente razoáveis. A principal vantagem da geração fotovoltaica é poder ser distribuída". Ao contrário das fontes eólica e hidráulica, por exemplo, as placas fotovoltaicas podem ser instaladas no local onde a energia será consumida. "Isso não só diminui os custos com transmissão e distribuição, como também reduz as perdas de energia a elas associadas."

O primeiro leilão específico para outorgas de geração de energia solar no Brasil está agendado para 10 de outubro.

É o tipo de energia que poderia ser gerada domesticamente, com enormes vantagens. Mas seu uso intensivo esbarra em fatores contrários, entre os quais o custo proibitivo das placas fotovoltaicas, como esta Coluna abordou no dia 15. "O cidadão não pode tirar R$ 20 mil do orçamento e esperar 10 anos para recuperar o investimento só com redução da conta de luz", afirma Adriano Moehlecke, coordenador do Núcleo de Tecnologia em Energia Solar da PUC-RS. Alemanha e Espanha estão entre os países que colocaram à disposição linhas de financiamento com juros favorecidos e prazos de carência esticados para incentivar a adesão da população (veja o gráfico). "Hoje, a Alemanha tem capacidade de geração igual a três Usinas de Itaipu instalada nas casas", diz Ruther.

 Foto: Estadão

Embora as placas vendidas hoje no País sejam certificadas pelo Inmetro, não há fabricantes no Brasil, o que desestimula o consumo também por falta de assistência técnica. É um círculo vicioso à procura de quem se disponha a quebrá-lo. Não há consumo porque é caro; o preço não cai porque não há consumo.

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Em compensação, cresce o mercado de energia solar térmica, que usa a luz do Sol para aquecer água para chuveiros, piscinas e até para processos industriais. Os custos são significativamente menores em relação à energia fotovoltaica. Para atender uma família de quatro pessoas, sistemas de aquecimento solar custam cerca de R$ 1.700, diz Marcelo Mesquita, secretário executivo do Departamento Nacional de Aquecimento Solar da Abrava, associação representante do setor. A redução da conta de luz chega a 35%, o que proporciona retorno do investimento em até 2 anos. É uma energia que não paga impostos sobre o consumo.

A Abrava aponta crescimento médio anual de 15% na área instalada com coletores de energia solar térmica no Brasil. O avanço vem sendo impulsionado por incentivos como o adotado pelas prefeituras de Guarulhos (SP) e Capivari (SC), que concedem descontos no IPTU para imóveis dotados de aquecimento solar. Mas poderia ser muito mais. / COLABOROU DANIELLE VILLELA

CONFIRA:

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Os sistemas de energia fotovoltaica e de aquecimento solar têm uma desvantagem em comum: a necessidade de mão de obra especializada para avaliar a incidência de luz solar sobre o imóvel e avaliar a utilidade da instalação. "Não é algo que o consumidor compra e liga na tomada", afirma Marcelo Mesquita, da Abrave. "É o que afasta as pessoas que decidem com base no imediatismo. Elas acabam pagando R$ 50 por um chuveiro elétrico e não perdem mais tempo."

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Elementos tóxicos

Outro argumento contrário ao uso da energia fotovoltaica é o impacto sobre o meio ambiente dos resíduos tóxicos que compõem as placas, a exemplo do cádmio e do lítio. "As placas fotovoltaicas não contêm essas substâncias em larga escala. O descarte seria equivalente ao que é feito hoje com as pilhas comuns", afirma Suzana Kahn Ribeiro, professora da Coppe/UFRJ. Mais de 80% das placas utilizadas atualmente no Brasil são feitas de silício, elemento químico inerte.

Opinião por Celso Ming

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