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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Em cem dias, algo mudou

Apesar das trapalhadas políticas da presidente Dilma, coisas relevantes - e boas - aconteceram na área econômica nestes cem primeiros dias de governo

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Atualização:

Apesar das trapalhadas políticas da presidente Dilma, coisas relevantes - e boas - aconteceram na área econômica nestes cem primeiros dias de governo.

É só comparar com a situação existente no final do primeiro mandato. Embora a presidente Dilma houvesse anunciado previamente a adoção de uma política econômica mais consistente e para sua condução nomeasse o ministro Joaquim Levy, bem mais identificado com as recomendações dos manuais de Economia Política, não havia garantia de que essas escolhas emplacariam.

Dilma. Efeitos da nova política. ( Foto: Fabio Motta/Estadão)

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Agora já se sabe que o programa básico do segundo mandato é de rejeição da política econômica desastrada adotada no primeiro mandato e de fortalecimento firme dos fundamentos. A presidente Dilma já passa firmeza em relação à nova orientação, coisa que não acontecia em janeiro.

O ajuste fiscal está sendo viabilizado, apesar das resistências de dentro e de fora do governo; reajustes realistas de preços e de tarifas estão sendo colocados em prática; as barbeiragens na área energética estão sendo corrigidas; o câmbio hoje corre mais solto, o que elimina enormes incertezas; o Banco Central já não se constrange em colocar os juros onde tiver de colocá-los para combater a inflação; os subsídios excessivos à produção, às vendas e ao crédito, que corroeram a política fiscal e a produção, estão sendo removidos.

Isso não significa que os problemas estejam sendo superados. A maioria deles continua aí. A conta da crise e das escolhas equivocadas de política econômica estão sendo repassadas agora para a população. O desemprego já começou e tende a se aprofundar; a perda de renda será inexorável, porque o PIB irá encolher e a indústria ainda não parece ter chegado ao fundo do poço.

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No entanto, começa a formar-se um quadro geral que pode mudar o astral e ajudar a recuperação da confiança. Alguns marcos já foram fincados. A Standard & Poor's e a Fitch já eliminaram neste ano a grave ameaça que pairava sobre nossas cabeças: a do afundamento da qualidade da dívida do Brasil ao grau de lixo especulativo. Agora, é só garantir as metas de ajuste fiscal, que o Congresso parece determinado a cumprir, para que o rebaixamento possa ser definitivamente evitado.

O outro marco ainda está para acontecer. Se, nas próximas semanas, a Petrobrás divulgar seu balanço devidamente auditado, aumentará a percepção geral de que um grande problema estará sendo enfim equacionado. Ainda não será a solução dos problemas de caixa da Petrobrás, nem a revisão do marco regulatório do pré-sal para níveis realistas, nem a adoção de um plano sustentável de negócios. Um vergonhoso passado de corrupção e de descontrole ainda terá de ser passado a limpo. Mas um pântano perigoso terá sido aterrado.

O jogo ainda não virou e o risco de que não vire nem neste nem no próximo ano ainda parece muito alto. No entanto, não pode ser desprezado o fato de que, mal ou bem, finalmente, há uma condução política.

É mais provável que a população e até formadores de opinião levem mais tempo para entender que já há mais chão do que havia há cem dias, porque a terapêutica é dolorosa e na dor é mais difícil de perceber sinais de melhora. Mas quem abrir os olhos terá condições de enxergar mudanças na direção correta.

CONFIRA:

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 Foto: Estadão

No gráfico, a evolução das cotações das ações preferenciais da Petrobrás. Apenas em abril, subiram 21,5%.

Grosseira e vulgar Em fevereiro, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse que a política de desonerações da administração anterior tinha sido "grosseira". Foi repreendido pela presidente Dilma. Agora, outro ministro, o Mangabeira Unger, da Secretaria de Assuntos Estratégicos, afirmou que toda a política econômica (não só as desonerações) não passou de "keynesianismo vulgar" e não foi repreendido. É mais um sinal de que as coisas estão mudadas.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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