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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|O dólar e os juros

Pipocam por aí manifestações de desconforto, não propriamente com a altura dos juros, mas com o efeito que provoca sobre a cotação do dólar no câmbio interno

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Atualização:

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reúne nesta quarta-feira para reexaminar o nível de moeda na economia e, assim, definir a nova taxa básica dos juros (Selic).

A expectativa é de alta de meio ponto porcentual, para 13,25% ao ano, que, uma vez confirmado, será o nível mais alto desde dezembro de 2008.

Pipocam por aí manifestações de desconforto, não propriamente com a altura dos juros, mas com o efeito que provoca sobre a cotação do dólar no câmbio interno.

 Foto: Estadão

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O receio é de que juros tão atraentes favorecem a especulação conhecida como arbitragem (carry trade). É o levantamento de empréstimos a juros rastejantes no exterior para serem trocados aqui por reais que, aplicados no mercado financeiro interno, rendem a Selic mais alguma coisa. A principal consequência é a forte entrada de recursos externos que, pelo efeito da lei da oferta e da procura, empurram a cotação do dólar em reais para baixo (valorização do real), situação que tira competitividade do setor produtivo, favorece importações, despesas com viagens externas e tudo o mais.

Em princípio, o BC não deve olhar para esse efeito. Injeta ou retira dinheiro na economia de modo a fixar os juros em patamar tal que segure a inflação na meta dos 4,5% ao ano. Como a inflação está entre 8% e 9% ao ano, o aperto na oferta de moeda deverá reduzir a demanda de mercadoria e serviços e, assim, forçar o funcionamento do sistema de metas.

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Nessas condições, o câmbio deveria ser olhado pelo Copom apenas como um dado como outro qualquer da realidade econômica, que ajuda ou não o cumprimento de metas. Ou seja, o câmbio deve flutuar.

Mas, à medida que o dólar vai escorregando para trás, como agora, reclamações de todos os lados começam a pressionar para que o Banco Central volte a trabalhar de maneira a provocar a alta das cotações do câmbio.

Ainda não há indicações de que retornaram as operações de arbitragem com os juros. A queda do dólar de, 9,15% nas quatro últimas semanas, parece mais relacionada com a melhora da confiança. Está relativamente afastado o risco de rebaixamento da qualidade da dívida brasileira; afinal, saiu o balanço auditado da Petrobrás e o ajuste fiscal já é mais do que uma simples intenção do ministro Joaquim Levy. Bastou isso para que se revertessem as apostas do mercado financeiro na crescente deterioração da economia - e as cotações do dólar caíssem. Coincidentemente, um dólar mais barato concorre para reduzir a inflação, uma vez que reduz os preços dos importados. Desse ponto de vista, é um alívio.

A atual esticada da inflação está menos relacionada com o aumento do consumo e mais com o tarifaço corretivo. Mas, ainda assim, os dirigentes do Banco Central entendem, como têm dito, que a alta dos juros deve continuar para combater os efeitos secundários dessa correção de tarifas. Por efeitos secundários deve-se entender a propensão dos "fazedores de preços" a remarcar para cima os preços de bens e serviços sempre que a inflação dá seus pinotes, como agora.

Não há nenhuma indicação de que o BC se desvie desse orientação.

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CONFIRA:

 Foto: Estadão

Acompanhe a evolução do desemprego no Brasil nos últimos 12 meses.

Aumenta o desemprego Depois de ter chegado aos níveis históricos mais baixos, a partir de janeiro, o desemprego deu um salto. Em março chegou a 6,2%, indicando a rápida contração da atividade econômica, neste ano de evolução negativa do PIB. Outro indicador que reforça a tendência de aumento do desemprego é o que aponta para a redução da renda do trabalhador. Em março, a renda real (descontada a inflação) caiu 2,8% em relação a fevereiro e 3,0% em relação a março de 2014.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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