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Além da economia

A Previdência e "a lei de Renato"

Desde que o mundo é mundo, ou melhor, desde que o Congresso é Congresso, o toma-lá-dá-cá manda nas discussões dos grandes projetos. Foi assim, é assim e dificilmente isso mudará. Nessa linha, é exemplar o que o ocorre no momento com as discussões em torno da reforma da Previdência, vista como essencial para um ajuste fiscal duradouro e consistente.

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Por Cida Damasco
Atualização:

Enquanto o governo tenta viabilizar a aprovação de uma versão enxuta dessa reforma, é cobrado por governadores a estabelecer um repasse de R$ 39 bilhões para os Estados, como compensação das perdas de receita geradas pela Lei Kandir nos últimos dez anos.  Mais ainda, sofre pressão para permitir a renegociação de dívidas com o Funrural e até mesmo para manter o reajuste salarial dos servidores públicos, originalmente programado para 2018 e adiado para 2019, via Medida Provisória. Concessões que enfraquecem justamente o ajuste fiscal. Qualquer marciano que entre no Congresso, por esses dias, certamente se sentirá confuso com essa incoerência. Ou melhor, nem precisa ser marciano: basta que seja um cidadão não familiarizado com os códigos da política.

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Como estava previsto, a proposta atualizada para a Previdência concentra-se basicamente em quatro pontos: 1) idade mínima para aposentadorias, de 65 anos para homens e 62 para mulheres, com exceções para professores (60 anos), policiais e trabalhadores que atuam sob condições que implicam riscos para a saúde (55 anos); 2) tempo mínimo de contribuição de 15 anos para trabalhadores do setor privado e de 25 anos para servidores públicos; 3) valor do benefício começando em 60% e chegando ao teto apenas depois de 40 anos de contribuição; 4) contribuições sociais excluídas da Desvinculação das Receitas  da União (DRU), com o objetivo de preservar as receitas de seguridade social.

Foram abandonadas mudanças em outros itens de forte impacto social, contra as quais inclusive a base parlamentar vinha centrando fogo, como aposentadorias rurais e os benefícios de prestação continuada (BPC), pagos a idosos com baixa renda. Feitos esses acertos, o cálculo da equipe econômica é que os benefícios fiscais com a reforma enxuta da Previdência fiquem em R$ 480 bilhões em 10 anos, em comparação com os R$ 800 bilhões previstos na proposta original.

Tudo indica que o primeiro passo em direção a uma reforma "palatável" foi  dado, com as mudanças incorporadas na emenda aglutinativa - cuja votação na Câmara está inicialmente prevista para o começo de dezembro. Palatável, porém, não quer dizer aprovada. Longe disso. O próprio presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem insistindo nesse ponto.

O que mais assusta é que, a essas alturas, não é exatamente o conteúdo dessa emenda que está em debate e alimenta essas incertezas. Pelo visto, estamos em pleno momento de comprovação da nova versão da Lei de Gerson, aquela que diz que "o mundo é dos espertos", enunciada dias atrás pelo técnico Renato Gaúcho, do Grêmio - depois confirmar que um espião pago pelo clube acompanhava os treinos do adversário Lanús com o uso de drones.

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Que tal garantir mais uma vaga para seu partido na reforma ministerial? Que tal conseguir mais um dinheirinho do orçamento? Sugestões como essas estão no centro das "negociações" que antecedem a reforma da Previdência. Tempos de esperteza explícita.

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