Maia argumenta que a Câmara não fez parte desse acordo e não dará passagem à tal MP. Faz sentido, no nível estrito das relações entre os Poderes, o argumento de Maia? Não fosse Maia da base aliada e não houvesse até uma carta de Temer selando o tal acordo, até faria. Afinal de contas, uma reforma defendida há tanto tempo e com tamanho alcance não deveria ser encerrada com uma MP para acertar alguns pontos até agora mal costurados.
O mais apropriado seria, obviamente, modificar esses itens no próprio texto da reforma e despachá-lo de novo para discussão na Câmara. A opção, contudo, foi aprovar o texto do jeito que chegou ao Senado, enviá-lo para sanção presidencial e fazer as correções via MP - tudo em nome da pressa. Oficialmente pressa para desengessar o mercado de trabalho e, com isso, contribuir para aliviar o desemprego. Mas, é indisfarçável, pressa também para mostrar que o governo Temer, apesar de tudo, continua a tocar sua ambiciosa pauta econômica.
Em situações normais, esse roteiro já admitiria ressalvas. Imagine-se então no atual quadro. A combinação é patrocinada por um presidente ameaçado de afastamento do cargo, encaminhada por ministros/senadores investigados/citados na Lava Jato e atropelando a Câmara, cujo presidente, "por sinal", pode ser o novo ocupante do Planalto. Só podia produzir faíscas.
Romero Jucá (PMDB-AL), líder do governo no Senado e "padrinho" desse acordo, faz questão de esclarecer que a Câmara participará da formatação da MP que irá fazer as adaptações necessárias na reforma. E arrisca mais: para ele, o mal-estar com Maia teria se originado das especulações sobre um acordo com as centrais sindicais para uma extinção gradativa - e não imediata - da contribuição sindical obrigatória. Acordo que, segundo ele, não foi feito. Não é bem isso que os sindicalistas dizem. A série, pelo visto, pode ter alguns episódios adicionais.