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Além da economia

Além do marketing

Quando se ouve as expressões "agenda positiva" e "pacote de bondades" é melhor examinar com cuidado o que vem pela frente. Além, naturalmente, de marketing. E não vai aqui crítica específica a nenhum governo. O expediente é mais do que generalizado e costuma ter dois objetivos: 1) mostrar ao distinto público que o governo não está parado e 2) mostrar que há uma estratégia definida para garantir "bondades" à população, especialmente se estão a caminho algumas "maldades". Tudo indica que o governo Temer está exatamente nesse momento. Tentando conciliar os dois objetivos, claro que com algumas idas e vindas, como é de seu feitio.

Por Cida Damasco
Atualização:

Para demonstrar que o governo está andando, a prioridade das prioridades é, obviamente, a reforma da Previdência. Sempre ela, considerada ponto de honra pelos mercados e pelos setores empresariais, e rejeitada por grande parcela da população. Logo que Temer assegurou sua permanência no Planalto, com a rejeição da segunda denúncia da PGR de Rodrigo Janot, a equipe econômica voltou a falar grosso sobre a urgência na votação da Previdência. Particularmente o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, candidato a candidato à sucessão de Temer, que chegou a prometer a votação para novembro.

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Mas o reconhecimento, na base parlamentar, de que não dá para contar com os 308 votos necessários para a aprovação da reforma acabou levando o próprio Temer a admitir que ela pode ficar para o próximo governo - não sem antes jogar no colo do Congresso a responsabilidade por esse eventual fracasso. Mas, como nada é definitivo, a reação desfavorável a esse aparente "sincericídio" , especialmente nos mercados, levou Temer a um recuo do recuo -- e a uma negociação para tornar o texto mais palatável, inclusive com a redução do tempo mínimo de contribuição para garantir o direito à aposentadoria. Pelo menos por enquanto, a ordem é pôr o texto para votar, mesmo que as chances de aprovação sejam reduzidas.

No "pacote de bondades", o caso exemplar é o do programa Avançar, várias vezes anunciado e várias vezes adiado nos últimos meses. Pelo que se sabe, o governo reeditou o PAC, marca das gestões petistas - para o bem e para o mal -, batizou-o com um novo nome e vai apresentá-lo como prova de retomada dos investimentos. O que é de grande conveniência num ano de campanha eleitoral. Com aplicação de recursos prevista para R$ 42 bilhões até o fim do ano que vem, o programa reúne mais de 6,2 mil projetos, de construção de presídios à de moradias, dentro do Minha Casa Minha Vida.

O governo diz que não faltará dinheiro para as obras, porque elas já estão enquadradas no Orçamento. Mas quem acompanhou o desempenho das contas públicas neste ano sabe que, ao primeiro sinal de quebra nas projeções de receitas, o que sobra para impedir o estouro das metas fiscais é a tesourada nos investimentos. Foi justamente o PAC o grande sacrificado para evitar uma implosão da área fiscal.

A conferir se, desta vez, "agenda positiva" e "pacote de bondades" serão mais do que expressões surradas do marketing oficial.

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