Foi só o Copom que manteve o ar de normalidade ou a economia tem condições de continuar andando, como se não tivesse ocorrido a avalanche desta terça-feira, com a divulgação da lista de Fachin, que soterrou políticos de A a Z, sacudiu o esquema Lula-Dilma e pôs o governo Temer na defensiva, com a autorização para investigação de 8 ministros, presidentes do Senado e da Câmara e deputados relatores de reformas prioritárias?
O comportamento do mercado no dia de hoje pode dar a impressão de que a lista de Fachin já está precificada. Como destacou o colega Fábio Alves no comentário divulgado no início da quarta-feira pelo portal Estadão, o mercado até bocejou diante desse noticiário. Tudo indica que o dólar e a Bovespa passaram pela prova do "day after" e fecharam o dia com resultados lidos como razoáveis diante do tamanho da crise.
Esse distanciamento "brechtiano" que o mercado parece manter dos fatos políticos, contudo, pode ser superado a qualquer momento. Em sã consciência, ninguém tem condições hoje de projetar com segurança como será o andamento das reformas no Congresso, apesar das palavras de ordem do Planalto para que se preserve a "normalidade".O desejo é que a "pauta positiva" das reformas ajude a dissipar o clima de "fim do mundo" criado por essa etapa da Lava Jato. Mas é bom lembrar que, à frente das reformas da Previdência e política, estão justamente políticos integrantes da lista de Fachin: respectivamente os deputados Arthur Maia (PPS-BA) e Vicente Cândido (PT-SP).
Difícil imaginar que o Congresso da Lava Jato e o Congresso das reformas sejam duas entidades separadas - cada uma com suas atribuições específicas e seus interesses específicos. Se a "união" das duas entidades se confirmar, já dá para imaginar o grau de contaminação do ambiente econômico -- que passará, obviamente, pelos mercados. Se o governo Temer, contudo, conseguir a proeza de operar com essa separação, pode até ser que a economia mantenha sua trajetória, sem grandes sobressaltos. Rumo às "emoções" da campanha eleitoral de 2018.