Dito isso, foram reforçados os sinais de queda mais moderada nas taxas de juros. Ou seja: aquele corte de 1 ponto porcentual das últimas duas reuniões do Copom não está garantido, embora também não esteja descartado. "Nem que sim nem que não" é a mensagem que se pode apreender do relatório nesse ponto -- uma ligeira mudança de tom em relação à ata.
Motivos para essa cautela? Os mesmos apontados no comunicado divulgado no dia da reunião do Copom e na ata: incertezas criadas pelo quadro político, principalmente em relação ao destino das reformas. No conjunto, os indicadores detalhados pelo documento do BC dão as pistas do tamanho da margem de manobra da política monetária nesse momento. Principalmente quando se leva em conta como ela está inserida na estratégia econômica do governo Temer.
Uma atividade econômica ainda fria - a ponto de se esperar uma deflação para o mês de junho - comportaria perfeitamente maior ousadia na derrubada dos juros. Afinal, do lado do consumidor, não se vê a menor disposição de entrar num novo ciclo de endividamento exacerbado: apesar dos estímulos ao acerto das contas, como a liberação dos saques das contas inativas do FGTS, o desemprego dele próprio ou de alguém próximo continua funcionando para impedir uma eventual tentação nessa linha. Do lado das empresas, o endividamento ainda pesa - e como pesa! - nos resultados, desestimulando novos investimentos, especialmente num quadro de ociosidade e de demanda ainda fraca.
As incertezas políticas, contudo, estão levando o BC a se conduzir com uma dose extra de cautela. O próprio presidente do BC, Ilan Goldfjan, em suas manifestações recentes, explicitou essas preocupações. "Não vou trabalhar pensando em política, mas vou trabalhar nas coisas que podem ter consequências práticas (para isso). Se a crise política levar a um problema nas reformas, isso afeta meu trabalho", afirmou.