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Além da economia

Caminhos cruzados

Um ano de governo Temer e todo o empenho do Planalto vinha sendo no sentido de impedir que se cruzassem os dois trilhos: o econômico e o político. A cada solavanco na área política - produzido basicamente por alguma nova etapa da Lava Jato - a turma do Planalto repetia o mantra. O governo vai continuar trabalhando para repor a economia nos trilhos e para tocar em frente as reformas constitucionais.

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Por Cida Damasco
Atualização:

Mal ou bem, com muitos percalços pelo caminho, até que se conseguiu cumprir esse roteiro. O ritmo da retomada era mais lento do que se desejava, mas começavam a aparecer sinais razoáveis de alívio no quadro econômico. E as reformas, apesar de todas as pressões e com ajuda da abertura dos cofres da União, começavam a andar. Agora, porém, essa pragmática separação, se ainda sobrevivia, se esgotou.

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O encontro da crise político-policial com a economia não se dá mais no chamado entorno de Temer, com vários de seus ministros e lideranças de suas bases parlamentares enredados na Lava Jato. Ele ocorre exatamente na cadeira de comando do País, com o próprio presidente ameaçado - como nunca - de perder seu cargo e com todas as incertezas acumuladas a partir daí.

Já na noite de ontem, logo após a divulgação das denúncias da JBS envolvendo Temer, os mercados lá fora começaram a refletir essas incertezas, com os papeis de empresas brasileiras puxando as baixas - dando a senha para a abertura tumultuada dos mercados aqui no Brasil, hoje, como acabou ocorrendo. Dólar em forte alta, Bovespa com as negociações suspensas após queda ter chegado à marca de 10% e assim por diante. A nota emitida pelo Banco Central e o cancelamento de leilão de títulos pelo Tesouro,  tentando tranquilizar os mercados, obviamente foram insuficientes para desanuviar o clima.

Claro que os mercados sempre reagem com extremismos a momentos como esse. E, aos poucos, depois de acertos de posições traumáticos, os tremores vão enfraquecendo. Mas eles devem irradiar seus efeitos também sobre o lado real da economia, com, por exemplo, um reforço na dosagem de cautela do Banco Central para a definição das taxas de juros - que, todos apostavam, teriam uma forte queda nas próximas reuniões do Copom. E, como se sabe, a política de juros é vista dentro do governo como o instrumento mais efetivo para retirada da atividade econômica do fundo do poço.

Há também uma trava natural nas negociações para as reformas trabalhista e principalmente da Previdência, que estavam concentradas nas mãos do próprio Temer. Parada técnica, para balanço, ou parada definitiva? Perguntas difíceis de serem respondidas taxativamente, sem a definição do cenário político. O que parece certo é que, desta vez, não será a economia que ajudará a pacificar o quadro político, como aconteceu em outros momentos de picos da crise - de octanagem bem menor. O cruzamento dos dois trilhos - econômico e político-policial -- é indissolúvel. Só a política pode resgatar a economia.

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