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Além da economia

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Pelo andar da carruagem, tudo indica que a preocupação principal não é mais se a reforma da Previdência vai passar, mas como ela vai passar. Em outras palavras, qual será o esvaziamento dos ganhos fiscais previstos para o médio prazo - segundo o governo, algo como R$ 800 bilhões em dez anos. Por enquanto, a redução dessa economia, com as concessões feitas em relação à proposta original, na fase pré-relatório, estão na base de 25% a 30% -- embora algumas consultorias falem em algo mais próximo de 50%. Nesta quarta-feira à noite, dentro do esperado, a comissão especial da Câmara aprovou a proposta de reforma da Previdência por 23 votos a favor e 14 contra.

Por Cida Damasco
Atualização:

A questão, agora, é saber qual o impacto desses últimos "pingadinhos", acrescentados pelo relator, deputado Arthur Maia (PPS-BA), para garantir o resultado na comissão, apesar dos recados seguidos enviados por Temer, de que a proposta era a que estava no texto do relator e pronto. É o caso da redução da idade mínima para 55 anos para policiais legislativos, que veio naquele estilo "quem grita mais, leva", que marcou os últimos dias no Congresso.

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Primeiro foram os policiais civis, que se envolveram num confronto com policiais legislativos, e acabaram beneficiados com a redução de idade mínima para 55 anos. Depois foram os policiais legislativos, que ganharam o mesmo direito. Os agentes penitenciários, que nesta terça-feira, véspera da votação, chegaram a invadir o Ministério da Justiça, inicialmente foram equiparados aos policiais civis e legislativos, mas, na última hora, foram excluídos dessa regra pelo relator, que disse ter recebido muitas críticas de parlamentares.

Diante dessas idas e vindas, fica cada vez mais difícil prever quantas concessões mais terão de ser feitas no plenário da Câmara, em nome de garantir os tais 308 votos necessários à aprovação da emenda constitucional. Alguns destaques ao parecer do relator foram inclusive retirados por pressão do governo, nessa etapa da tramitação, mas devem reaparecer na batalha do plenário.

O governo age em duas frentes: de um lado, tenta impedir que algumas torneiras sejam abertas, nesse toma-lá-dá-cá para tentar levar adiante a reforma da Previdência. Pelo menos tenta impedir que elas sejam abertas agora, o que reduziria a sua capacidade de negociação nas próximas etapas da tramitação da reforma. De outro, tenta "desestimular" as dissidências dentro da base parlamentar, recorrendo ao exemplo da punição aos infiéis na votação da reforma trabalhista.

Já está mais do que claro que mercado e setores empresariais - aqui e lá fora - preferem uma reforma esvaziada do que nenhuma reforma. E também admitem que será necessário cuidar de outras mudanças, mais cedo do que se esperava. O jogo é estritamente fiscal e com prazo cada vez mais encurtado -- a construção de uma "ponte" para assegurar a travessia pelo menos até o próximo governo.

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