Um corte de 1 ponto na taxa básica de juros, a Selic, como o anunciado nesta quarta-feira, parece atender às expectativas - como dá a entender, inclusive, o comunicado do Copom, ao citar a inflação em queda, o cenário externo favorável para o Brasil, e como principal fator de risco "o aumento da incerteza sobre a velocidade do processo de reformas e ajustes da economia". Nem uma aceleração, como se acreditava antes de cair a bomba da delação dos irmãos Batista, nem uma parada brusca, como muitos temiam no primeiro impacto da divulgação das conversas entre Joesley e Temer. Até porque a inflação continua baixa - o IPCA-15 ficou em 0,24% em maio, o menor para o mês desde 2000, com uma variação acumulada de 3,77% em 12 meses -- apesar da ligeira piora das previsões do mercado para o ano captadas pela pesquisa Focus. E os indicadores da atividade econômica ainda comprovam um quadro de instabilidade - com o mais visível deles aos olhos da população em geral, o emprego, ainda sem recuperação efetiva.
Temer começou a semana numa gangorra: engendrou a troca dos ministros da Justiça e da Transparência, no que parecia ser uma esperta manobra para esticar sua sobrevida. Mas o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), apeado da Justiça, negou-se a mudar para a Transparência, e saiu dizendo que Temer foi pressionado por "trôpegos estrategistas". Temer pediu e levou a separação entre seu inquérito no STF e o de Aécio Neves. Mas ainda há dúvidas se ficou amarrado ao ex-assessor especial, Rocha Loures (PMDB-PR), o homem da mala dos R$ 500 mil que era suplente de Serraglio, ou se o deputado perderá foro privilegiado. E ainda tem mais: Temer deve ser interrogado por escrito pela PF, em pleno exercício do cargo, e briga para não ter de se explicar sobre os aúdios, antes do resultado da perícia.
No meio desse furacão, portanto, nada como uma taxa de juros mais baixa e um PIB mais alto - como deve ser o divulgado nesta quinta-feira, referente ao primeiro trimestre. Não fosse a JBS, esta poderia ser uma semana especial para Temer, com dois dias seguidos de boas notícias para a economia. Agora, o que o Planalto pode esperar é, na melhor das hipóteses, tapar um pouco o sol com a peneira. Nas atuais circunstâncias, já é alguma coisa.