É pouco? Claro. Mas é melhor que nada. Logo após a divulgação do IBC-Br chegou-se até a especular sobre a possibilidade de que o PIB do segundo trimestre, que será anunciado no dia 1º de setembro, registre um novo crescimento. Ao contrário do que previam vários analistas, com base na avaliação de que a expansão de 1% verificada no primeiro trimestre estava assentada principalmente no desempenho da agropecuária -- e, em consequência, o gradativo enfraquecimento dos efeitos da supersafra faria o PIB do segundo trimestre voltar ao vermelho. O próprio ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tratou de esvaziar as especulações mais otimistas, reforçando as estimativas anteriores de um PIB com variação zero ou até negativa.
O IBC-Br do segundo trimestre só não é surpreendente, porque os principais indicadores setoriais já vinham apontando na mesma direção. Segundo o IBGE, as vendas do varejo tiveram o melhor trimestre em três anos, com alta de 2,5% sobre o mesmo período de 2016. O setor de serviços registrou um crescimento bem mais limitado (0,5%) na mesma base de comparação, mas o resultado foi o primeiro positivo após 9 trimestres seguidos de números negativos. E a indústria, que ficou no zero a zero em junho, terminou o trimestre com uma variação modestíssima de 0,2% também sobre o período correspondente de 2016. Tanto a confiança empresarial como a confiança do consumidor, medidas respectivamente pela Fundação Getúlio Vargas e pelo Serviço de Proteção ao Crédito e com comportamento bastante errático, mostram algum avanço, em julho.
Diferenças metodológicas à parte e oscilações para um lado e para outro, o fato é que ainda não há razão para se decretar a consolidação da retomada. Como naquele hit-chiclete que bate recordes e recordes de visualizações na internet e de audiência no Spotify, a economia brasileira continua caminhando "despacito".A derrubada dos juros, é verdade, veio para acelerar a retomada. Mas até agora não conseguiu "mostrar serviço" nas proporções desejadas, tendo em vista o forte endividamento que solapou os orçamentos de empresas e consumidores. Além do mais, a crise fiscal está aí para complicar o que já não era simples. E não custa repetir: tudo o que se tem visto, nos últimos dias, é um movimento forte para tentar "cavar" alguma folga nas contas públicas. Não para dar qualquer gás à economia, como poderiam imaginar alguns desavisados, mas para garantir privilégios. Assim, persiste o risco de que ainda leve tempo para se mudar de trilha sonora.