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Além da economia

Preços dos combustíveis, sempre uma dor de cabeça para o governo

Se você, caro leitor, acha que essa discussão já ocorreu em outras ocasiões, não se trata de impressão. Aumentos dos preços de combustíveis costumam causar atritos entre a ala mais política dos governos e a direção da empresa. Desta vez, contudo, parece haver um agravante. As pressões contra a alta dos preços dos combustíveis, exacerbadas nos bloqueios de vias públicas em todo o País organizados pelos caminhoneiros, coincidem com a melhora dos resultados financeiros da estatal -- atribuída justamente a uma política mais realista de preços, que acompanha dia a dia as variações das cotações internacionais do petróleo e as oscilações do câmbio, depois de um longo período de perdas resultante não só da sangria provocada nos cofres da estatal pela corrupção como também do intervencionismo do governo Dilma.

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Por Cida Damasco
Atualização:

Vamos combinar que é difícil para qualquer governo manter um distanciamento "brechtiano" da administração da Petrobrás. Não há a menor dúvida de que não se trata de uma empresa como outra qualquer. Nos tempos em que os reajustes de combustíveis eram anunciados com pompa e circunstância e filas se formavam nos postos para encher os tanques antes da entrada em vigor das novas tabelas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, chegou a manifestar descontentamento por não ter sido avisado antes da alta dos preços. O que não faz nenhum sentido é administrar a empresa de olho em outros interesses -- e, nesse caso, não estou falando de corrupção --, mesmo que, aos olhos de alguns observadores, pareçam "do bem", como o controle da inflação. Os acionistas que o digam.

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A tentação se torna ainda maior em plena campanha eleitoral, como agora -- quando as tensões na economia acirram as tensões na política e vice-versa. Embora Temer tenha desistido de disputar a reeleição, o MDB e o governo, pelo menos oficialmente, têm um candidato para chamar de seu: o ex-ministro Henrique Meirelles, justamente o pai da política econômica do governo Temer, entronizado como pré-candidato do partido à Presidência nesta terça-feira.

É fato que o momento ainda é de inflação bem reduzida, abaixo inclusive do piso das metas oficiais, o que desautoriza previsões de uma escalada geral de preços em razão dos aumentos dos combustíveis. Mas é inegável também que uma alta do diesel superior a 50%, em menos de um ano, tem um potencial de propagação pelo conjunto da economia -- que só não é mais ampla por causa do enfraquecimento do nível de atividades. Em relação à gasolina, as frequentes remarcações de preço também têm causando um certo incômodo aos consumidores, expresso, inclusive, nos memes que circulam pela internet.

Por mais que se tente manter ares de normalidade, é claríssimo que a situação não é nada confortável para o governo. O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, garantiu que a política da Petrobrás não muda e Pedro Parente, presidente da estatal, só foi chamado para uma reunião no Planalto com o objetivo de dar informações sobre o que está acontecendo no setor. Na mesma linha, Parente disse que, assim como os preços subiram com a alta do dólar, com a baixa eles caíram -- baixa resultante da atuação do Banco Central no mercado de câmbio. Já a turma da política tem uma visão -- digamos -- mais pragmática. Enquanto o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, dizia que estão em estudo alternativas para baixar o preço da gasolina, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), avançava e fala numa revisão de preços "mais periódica". Pois bem. Declarações de cá, acenos de lá e no final das contas o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) deu a notícia: o governo decidiu zerar a Cide sobre a gasolina e o diesel para conter os preços dos combustíveis. Um jeito de preservar a Petrobrás e enfrentar as pressões. Nessas horas, sempre se arruma um espaço fiscal.

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