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Além da economia

Realidade e percepção

 

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Por Cida Damasco
Atualização:

Faça um teste. Pergunte a qualquer consumidor se a inflação está em baixa e a resposta será quase sempre um sonoro não. Dificilmente haverá um reconhecimento, por parte dos cidadãos comuns, dessa realidade - ou seja, que os preços estão subindo num ritmo muito mais lento do que pouco tempo atrás.

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Para eles, queda da inflação costuma ser confundida com queda de preços. Além disso, poucos sabem que o IPCA é uma média e, portanto, comporta diferenças expressivas dependendo principalmente da faixa de renda e, por tabela, da cesta de consumo do cidadão. O levantamento do IBGE abrange famílias com rendimento de 1 a 40 salários mínimos, em 10 regiões metropolitanas, mais Goiânia, Campo Grande e Brasília. Gastos com educação e transporte, por exemplo, pesam muito mais para famílias com filhos em idade escolar do que para idosos.

Independentemente da percepção, porém, o impacto da queda da inflação sobre a renda disponível das pessoas, nas proporções observadas ao longo deste ano, é vigoroso. E, nesse caso, quanto maior for a participação de alimentos e outros gastos básicos no orçamento doméstico, maior será esse impacto. Por mais que os salários e/ou a remuneração dos trabalhadores por conta própria continuem contidos pela ainda fraca atividade econômica.

Afinal de contas, os preços de alimentos e bebidas registraram, em novembro, a sétima deflação seguida - a sequência mais longa desde o início da pesquisa, em janeiro de 1994. A inflação do mês poderia ter sido ainda menor, sem a pressão das tarifas de energia elétrica (aumento de 4,21% em novembro) e dos preços do gás de botijão (alta de 1,57%), gasolina (2,92%) e etanol (4,14%) - nos três últimos casos, consequência direta da política de alinhamento internacional e recomposição de margens da Petrobrás.

Só para efeito de comparação, com uma variação de 0,28% em novembro, as taxas acumuladas em 11 meses e 12 meses atingiram, respectivamente, 2,50% e 2,80% -- números que, no início de 2015, correspondiam a apenas duas vezes a alta do IPCA num único mês. Além disso, o resultado de novembro abriu a possibilidade de que o ano termine com uma inflação abaixo do piso da meta (3% a 6%) - o que, pela primeira vez, faria o presidente do Banco Central ter de enviar uma carta de explicação ao ministro da Fazenda. Algo impensável até pouco tempo atrás, quando a preocupação era justamente o inverso, ou seja, evitar justificativas pelo estouro da meta.

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O governo, sempre que pode, aponta a derrubada da inflação como uma das provas do acerto da política econômica, especialmente da política monetária adotada pelo Banco Central. Faz todo sentido, mas não dá para ignorar, contudo, o papel decisivo da recessão nessa trajetória da inflação.

 

 

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