Quem vai mandar na economia no segundo mandato

Raros temas movimentam corações e mentes dos mundos político e econômico na mesma intensidade e de forma concomitante. É o caso da escolha do condutor da política econômica, que embute poder e influência do primeiro ao último minuto no cargo. O Palácio do Planalto bateu o martelo sobre quem e o quê vai ser feito.

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Por Iuri Dantas
Atualização:

A missão não será das mais fáceis. Quando chegou ao Planalto como presidente em 2011, Dilma Rousseff encontrou o País crescendo a ritmo chinês de 7,5% ao ano. A inflação fechara o ano anterior em 5,91%, desconfortavelmente acima do centro da meta. Os juros do Banco Central, a famosa taxa Selic, batia em 10,75% ao ano. 

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Lá fora, o mundo iniciava o período de grande moderação econômica. Coube à primeira presidente eleita pelo voto popular na história da República administrar a situação. Se todos os seus colegas do mercado e da academia recomendavam um pouso suave, não compartilhava dessa opinião a nova economista-em-chefe. Era preciso adotar uma política "anticíciclica", nome charmoso para ir contra a corrente. Quando a economia dispara, cabe ao governo puxar o freio nos seus gastos, atrapalhar pouco, e se preparar para os dias difíceis. E quando o PIB afunda, aí sim a equipe econômica abre o cofre, os juros vão para baixo e o crédito abunda.

Claro. Isso tudo na teoria, porque no Brasil a prática é sempre outra.

 

O governo lançou dezenas de pacotes de estímulo à economia, preocupado com o contágio da crise econômica internacional. Mudou regras a todo momento, porque havia enorme interesse de investidores no País e a presidente quis tirar mais proveito disso. Chegou a propor taxas menores de lucro para empreendimentos de infraestrutura, baixas o suficiente para ninguém se interessar por alguns lotes. As regras do grande leilão de Libra conseguiram, por exemplo, atrair apenas o interesse da Petrobras em parceria com uma petroleira chinesa.

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Sob a batuta do novo ministro da Fazenda, alguns recuos serão necessários e o governo sabe disso. Os cortes de impostos que deveriam impulsionar o PIB não impediram a recessão técnica do primeiro semestre, mas garantiram uma barafunda sem tamanho nas contas públicas. Os subsídios aos bancos públicos não foram suficientes para uma queda dos juros ao consumidor para níveis civilizados. E por aí vai. 

Na macroeconomia, o novo ministro também terá um belo cavalo de pau pela frente. Dilma foi reeleita, mas ninguém em sua entourage parece discordar que é preciso voltar ao consenso vigente durante FHC e Lula. Só o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, mas é preciso ter paciência e aceitar que cada um pensa de um jeito, pouco importa se a realidade concorda. Um retorno ao tripé macroeconômico de inflação no centro da meta, política fiscal séria produzindo superávit em vez de déficit, e câmbio sem tanta interferência do Banco Central. 

Não é pitaco ou bola de cristal. O governo não tem dinheiro para o que gosta de gastar. O Banco Central já avisou que os juros vão continuar subindo, talvez mais rápido do que desejam os auxiliares presidenciais. A gasolina não vai parar no aumento recente e a energia, bem, São Pedro não confirmou ainda a condição hidrológica de 2015. Ah, ainda tem aquela história chata de que a inflação está acima da meta e assim continua por alguns trimestres... 

Depois da eleição, muitos foram convidados para conversar. Outros tiveram seus nomes avaliados pelo governo. O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, dizem os jornais, chegou a negar gentilmente a oferta. O ex-presidente do BC, Henrique Meirelles, também era da preferência de Lula e, dizem os detratores, também de Dilma, mas parece que não aceitou também. Isso acontece, não é o fim do mundo. A vida presenteia quem tem paciência.

Dias e dias depois, o Palácio do Planalto chegou à pessoa certa. Não há ninguém capaz, neste momento, de desmontar medidas e intervenções feitas pelo Palácio do Planalto desde que Lula saiu da Presidência. Contrário à independência do BC e também à autonomia do Ministério da Fazenda, o Planalto tem certeza absoluta de que apenas uma pessoa vai mandar e desmandar na economia nos próximos quatro anos.

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Chama-se Dilma Rousseff.

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