Não é de hoje que os preços das ações brasileiras são considerados baixos. A Bovespa passa por um período desanimador, que leva inclusive algumas empresas a abandonarem o mercado de capitais.
O País passou a ser preterido por investidores estrangeiros em razão da deterioração da economia, o que inclui problemas fiscais, fraqueza da atividade, persistência da inflação e risco de perda do grau de investimento. Do final do ano para cá, o cenário piorou ainda mais e os escândalos de corrupção envolvendo a Petrobras trouxeram uma crise política.
Mesmo em meio a tudo isso, a Bovespa começou a ver alguma entrada de recursos externos nos últimos dias. Como explicar esse movimento repentino na atual situação?
"É o câmbio", resume Vital Menezes, CEO da JP Morgan Asset Management, em conversa com esta coluna. Afinal, a moeda brasileira sofreu uma desvalorização rápida e relevante, o que fez o dólar se aproximar de R$ 3,30.
A trajetória do câmbio criou um ponto de entrada ao jogar as cotações para patamares bem mais baixos. Levantamento da Economática mostra que, em dólar, o Ibovespa bateu 15.062 pontos no dia 13 de março, sexta-feira passada. É o menor nível desde março de 2009, período considerado como o ponto da virada do mercado brasileiro após o estresse causado pelo colapso do Lehman Brothers meses antes.
Desde o piso registrado na semana passada, o índice avançou cerca de mil pontos, um ganho de quase 7%, na moeda norte-americana. A onda atingiu inclusive aquela que representa hoje o grande temor para o mercado brasileiro: a Petrobras. As ações da estatal retomaram o patamar de R$ 9,00.
Apesar dos diversos relatos de que a entrada de capital estrangeiro conduziu os ganhos da Bovespa nos últimos dias, estrategistas consultados por esta coluna avaliam que o movimento é de curto prazo, com viés mais especulativo.
"Como investidor de longo prazo, eu adicionaria à carteira ações de empresas estáveis que estivessem em queda, mas não compraria no rali", afirma Kumar Pandit, gestor para o Brasil da Somerset Capital Management. "Há muita incerteza sobre a Petrobras, a Lava Jato, Renan Calheiros diante das medidas fiscais, racionamento e, claro, a popularidade do governo."
Para Adrian Landgrebe, gestor da Sagil Capital, em Londres, o Brasil parece barato em dólares e possivelmente investidores veem uma oportunidade. Duas operações anunciadas recentemente podem acabar reforçando essa percepção: a proposta de fechamento de capital da Souza Cruz e a oferta pelas ações da BR Properties. Seus controladores aproveitam os preços atuais para comprar os papéis. "Mas eu não vi uma mudança da avaliação sobre o fundamento do Brasil", diz Landgrebe.
"O câmbio é um atrativo, mas não é possível se convencer de que este é um movimento permanente", afirma Wilber Colmerauer, sócio da consultoria EM Funding. "É um dinheiro especulativo."
Os grandes investidores de longo prazo estão afastados do Brasil. Além das dificuldades econômicas e políticas, existe a expectativa pelo balanço da Petrobras. A estatal tem até o final de maio para conseguir calcular as perdas decorrentes das investigações da Lava Jato e publicar demonstrações financeiras auditadas pela PwC.
Esse é o ponto que mais preocupa aqueles voltados para o mercado de ações. Sem a devida auditoria, credores podem disparar um processo de antecipação de vencimentos de dívidas, com sérias consequências e potencial risco sistêmico. Somente a partir da publicação do balanço será possível avaliar o impacto sobre o patrimônio da companhia. "Em toda a reunião com investidores que eu participo, a primeira pergunta é sobre a Petrobras", afirma um profissional no exterior.
Se o atual fluxo internacional para o mercado de ações é pontual, o que teria de ocorrer para uma virada sobre a percepção do Brasil? Depois de divulgados os números da Petrobras, a resposta ouvida é sempre uma só: o governo precisa conseguir efetivamente mostrar resultados críveis das novas medidas econômicas, especialmente no campo fiscal.