Esta comparação é repisada por aqui e tende a ser alardeada por apoiadores e detratores do governo à exaustão. Mas os dados são teimosos e nós também: Dilma tem, sim, a inflação média em 12 meses mais baixa desde o Plano Real, na comparação fria com números dos primeiros 4 anos de Lula e FHC.
- E daí?
- Vai para o trono ou não vai?
Foi difícil conquistar este carimbo de aprovação para seus eleitores. Durante um semestre inteiro (entre junho e novembro) a alta média dos preços no Brasil ficou acima dos 6,50% - a mesma dureza foi persistente em quatro anos, vamos combinar, e com alguns preços congelados. E foi só apenas em dezembro que o IPCA convergiu para abaixo da cordinha. Cordinha, essa, tomada como meta por este governo, cujo objetivo formal, não podemos esquecer, é fazer a inflação dançar em ritmo bem mais baixo, na altura dos 4,5%.
Mas isso não ocorre desde meados do governo Lula - e lá se vão uns 6 anos. Na prática, desde então, o teto virou meta - como explica a analista Adriana Molinari, da Tendências Consultoria.
Não há motivos para comemorar, diz ela. "Os dois pontos porcentuais para cima ou para baixo dos 4,5% (centro da meta oficial) devem servir para absorver eventuais choques de oferta." O perigo de manter a inflação constantemente no limite dessa banda está aí: não há margem de segurança.
Vá lá, como já foi dito por aqui, escolhas benéficas à classe trabalhadora, como persistentes aumentos salariais, estão entre os maiores responsáveis pela inflação em 12 meses namorar sempre com os 6,5%. Ou seja, optou-se por priorizar políticas de bem-estar social em detrimento de números macroeconômicos mais saudáveis. Mas, passado este pano na gestão monetária petista, não dá para ignorar outro fato: anos e anos de corrosão persistente do poder de compra colocam em risco justamente este bem-estar social tão propalado. E todas as conquistas sociais de anos podem se perder num modelo pouco sustentável.
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E a inflação no segundo mandato?
Bem, 2015 tende a ser mais um ano difícil de combate à inflação. No final do ano passado, o governo deu uma série de sinais de que os preços tendem a subir mais do que deseja. A atual gestão econômica fala em puxar para cima impostos e reajustar tarifas represadas há tempos - gasolina e energia. E o próprio Banco Central (BC) já avisou: (1) o primeiro trimestre do ano será de índices preocupantes e (2) a inflação só deve convergir para o centro da meta, de 4,5%, em 2016.
Por um lado, este é o momento ideal para o governo soltar os preços administrados - acredita Adriana. Como explica, os chamados preços livres (comida, roupas, serviços, lazer, etc e tal) estão em tendência de queda, apesar da pressão causada em 2014. Ou seja, haverá alguma margem para elevar tarifas controladas pelo governo.
No entanto, diz ela, o otimismo do BC, de uma inflação de 4,5% em 2016, deve ser frustrado.
Em seus cálculos, nem se uma vaca tossir e/ou cantar ópera o Brasil terá ritmo médio de alta de preços, pelos próximos 4 anos, distantes dos 6,5% quando acumulados em 12 meses. Apesar da baixa dos preços livres, a expansão dos preços administrados será forte em 2015 e constante até 2018. Dessa forma, embora haja margem, ela será estreita.
Mas há um alento: esta atual equipe econômica, liderada por Joaquim Levy, levando em conta os cortes de gastos prometidos, parece bem mais amiga do BC que o time anterior da Fazenda. Feito o prometido, não será mais tarefa da autoridade monetária ficar enxugando o chão (subindo os juros) a cada vez que o governo decidir despejar água (incentivar o consumo) pelo chão. Em médio prazo, os escorregões de nossos salários, corroídos pela alta dos preços, podem se tornar menos arriscados.
Assim seja.
Doeu no bolso?
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