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Cinco perguntas sobre a crise na China

Professor do Insper, Roberto Dumas Damas explica o que está acontecendo com o mercado de ações chinês

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Por Economia & Negócios
Atualização:

(Alexa Salomão - atualização em 24/8/2015)

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O mercado de ações na China está passando por momentos de, no mínimo, muita emoção. Depois de várias altas e quedas, a bolsa de Xangai zerou os ganhos este ano ao cair 8,5% nesta segunda-feira, 24. O tombo causou uma onda de pânico no mercado financeiro global, com reflexos no Brasil, inclusive.

O governo chinês interveio no mercado para tentar conter a fuga de investidores, mas incertezas quanto ao programa provocam temores de uma nova crise asiática . Além disso, indicadores da economia chinesa apontam uma desaceleração que pode enterrar de vez a expressão "ritmo chinês de crescimento".

Sobe e desce das ações nas bolsas chinesas afeta o mercado global ( Foto: AP)

A China chegou a esse ponto porque milhões de trabalhadores e famílias de classe média apostaram fortemente em ações de segunda linha, pegando dinheiro emprestado para fazer isso. Mas os balanços começaram a mostrar que essas empresas eram fracas. O governo tentou remediar, mas os investidores perderam a fé e estão vendendo as ações.

The Economist: Os perigos da alta insana das Bolsas da China

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Desde o fim de junho, o governo chinês vem tentando usar a política monetária para tentar moderar a situação. Cortou juros, colocou mais empréstimos à disposição e prometeu investigar qualquer manipulação de mercado.

Os efeitos no mercado global podem ser dramáticos. A China é a segunda maior economia do mundo. É a maior importadora de commodities de países como Austrália e Brasil. É um grande comprador de manufaturados da Alemanha. Se a confiança dos consumidores for afetada, as compras podem ser desaceleradas.

Fernando Dantas: Sinais da crise financeira na China

Um mercado acionário fraco pode se espalhar pela economia chinesa no longo prazo, levando o país a rever empréstimos e investimentos. Professor do Insper, Roberto Dumas Damas destaca cinco pontos principais sobre a crise chinesa.

1. O que as sucessivas quedas da bolsa de valores na China estão indicando?

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A bolha da bolsa chinesa estourou. As pessoas ficam procurando uma explicação, mas o fato é que bolhas sempre estouram.

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2. Como a bolha se formou?

A China tem uma taxa de juros muito baixa, o que obriga as pessoas a procurar alternativas de investimento. Já foram atraídas pelo setor imobiliário, mas ele parou de dar retorno. Foram para os shadow banks (bancos sombra, sem garantia do Estado e de alto risco). O governo percebeu a encrenca e desestimulou. Sobrou a bolsa. Há um ano a bolsa subia, mas o país já estava em soft landing (pouso suave, termo que significa lenta desaceleração). Você pode dizer que 7%, que o crescimento chinês, é bom demais. Mas a expectativa é que vai cair a 6%, 5%, na média, nos próximo 10 anos. Ou seja, a bolsa não refletia a economia.

3. Mas a taxa de crescimento vai cair tanto assim?

Dois motores da economia chinesas pararam: o investimento e as exportações. Sobrou o consumo, mas para fazer ele funcionar é preciso rebalancear a economia: reduzir investimentos em estatais, devagar, para elas não quebrarem, aumentar salários, mexer no câmbio. Isso leva tempo. É virar a rota de um Titanic.

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4. Pode haver contágio, como no estouro da bolha imobiliária nos EUA?

Não. Gringos têm restrição para entrar na bolsa e o governo controla o fluxo de capitais internacionais.

5. O Brasil pode sofrer?

Sim, o Brasil e todos os países que exportam para China hard commodities (matérias-primas como minério de ferro, cobre, gás). O preço vai continuar caindo, com efeitos sobre a taxa de câmbio e a balança comercial dos países.

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