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Práticas empresariais sustentáveis

Amazônia tem espaço para criar 240 milhões de cabeças de gado sem desmatamento

Usando técnicas de criação sustentável e sem aumentar a área de pastagem, o rebanho bovino da Amazônia chegaria a 240 milhões de cabeças, de acordo com Francisco Beduschi, presidente do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS). "Das 80 milhões de cabeças de gado criado no bioma amazônico, é possível aumentar o rebanho em até três vezes sem fazer desmatamento", segundo o dirigente. A produção de carne sustentável vem ganhando a adesão de empresas escala em frigoríficos como a Minerva, apoiados pela adesão de redes como o McDonald's, que já inclui o produto no cardápio, e grandes supermercadistas.

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Por Amcham Brasil
Atualização:

Em setembro, a rede de fast food McDonald's comprou 250 toneladas de carne sustentável e tem como meta aumentar gradualmente a participação dessa proteína na produção de sanduíches. "O Walmart e o Carrefour já comercializam a carne, e o Pão de Açúcar estuda formas de colocar o produto em suas lojas", acrescenta Beduschi.

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O bioma amazônico é formado pelos estados do Norte, Mato Grosso e parte do Maranhão. Segundo Beduschi, no Mato Grosso se concentra a maior parte do rebanho bovino nacional, cerca de 29 milhões de cabeças que representam 16% do total de 180 milhões. Como a taxa de ocupação de gado no bioma é de 1,4 cabeça por hectare, o potencial de criação é de três vezes mais aproveitando os espaços abertos pela pecuária.

O GTPS é uma associação formada por grandes representantes da cadeia pecuária bovina, como produtores, indústrias, varejistas e fornecedores. Em novembro, o grupo vai participar da próxima cúpula do clima (COP 22) no Marrocos para reforçar o papel da pecuária sustentável como fonte de apoio ao cumprimento da meta de redução de gases poluentes. O grupo tem estudos recentes que mostram que é possível reduzir de 70% a 90% de emissões por quilo de carne produzida aplicando práticas sustentáveis. "Isso diminuiria as emissões de 120 quilos de CO? para cerca de 40 quilos", pontua Beduschi.

O frigorífico Minerva Foods aplica políticas de pecuária sustentável desde 2010, quando começou a participar do Compromisso Público da Pecuária - acordo que envolve princípios de respeito socioambiental na produção. Algumas das práticas são a compra de carne de áreas não desmatadas e o incentivo ao uso de tecnologia na produção. Critérios de responsabilidade socioambiental são determinantes na compra de gado, o que faz com que os pecuaristas cadastrados na companhia passem por verificação a cada negociação, segundo a empresa.

Uma plataforma de monitoramento usada na cadeia de suprimentos permitiu o monitoramento de 1,9 milhão de cabeças de gado do frigorífico em todo o país, e mais de 5,7 milhões de hectares onde o rebanho é criado na Amazônia em 2015. Além de monitorar a conversão de uso do solo, a Minerva usa a tecnologia para auxiliar os programas da empresa que fomentam o aumento da taxa de ocupação do gado, promovendo uma cadeia de valor mais eficiente.

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As informações geradas permitiram o levantamento da quantidade e tipo de gado de cada região, direcionando a compra de acordo com o potencial de desenvolvimento do rebanho. Diariamente, a Minerva compra mais de seis mil animais monitorados. "Isso representa economia capital, uma vez que a matéria-prima equivale de 75% a 85% dos custos do produto final. Ademais, os custos de logística são mitigados pelo melhor gerenciamento da rota a ser utilizada", de acordo com Taciano Custodio, gerente executivo de sustentabilidade da Minerva Foods.

A Minerva é uma das empresas inscritas no Prêmio ECO de 2016. Outra empresa que concorre ao ECO é a Pecuária da Amazônia (Pecsa), que gerencia projetos agropecuários sustentáveis. Para Laurent Micol, diretor de governança e investimentos da Pecsa, a tendência é que a criação de gado seja feita em espaços já abertos na Amazônia para evitar impactos ambientais maiores.

Aplicando tecnologias de captação de água e redistribuição de pastagens na Amazônia, o gado se movimenta menos e engorda mais rápido comendo o capim abundante da região, segundo Micol. "O gado cresce com ótima qualidade e ganha peso ideal para abate em dois anos, com carne mais macia. Usando técnicas tradicionais, ele demora de quatro a cincos anos e a carne fica mais dura."

Na pecuária convencional, o gado anda até encontrar água e gera mais impacto ambiental, acrescenta Micol. "Isso gera efeitos no solo, que é pisoteado e expõe os nutrientes, diminuindo o seu potencial agrícola. Além disso, ao beber a água dos rios, ele come a vegetação ciliar do entorno e produz excrementos que sujam o recurso", compara.

A fabricante de produtos agropecuários Korin cria bovinos de forma sustentável na região do Pantanal. "Produzimos a carne de forma extensiva. Não confinamos o boi", disse Reginaldo Morikawa, diretor superintende da Korin. De acordo com o executivo, a carne produzida no Pantanal é feita sem agredir o meio ambiente. "No Pantanal, o boi é considerado um bombeiro da região. Porque ele come o capim em excesso que cresce depois das cheias e evita queimadas na época de seca", detalha.

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Outra vantagem da criação no Pantanal apontada pela Korin é que a sazonalidade entre seca e cheia permite a alimentação do gado e adubação de terras, o que tira qualquer necessidade de adicionar adubos químicos e orgânicos ao solo. Em 2013 e 2012, a Korin venceu o Prêmio ECO com projetos de agropecuária sustentável.

Para Beduschi, a pecuária feita de modo sustentável é a melhor forma de se desenvolver na Amazônia. "Essa atividade já se instalou na região. O que queremos é que ela se desenvolva de forma sustentável. E fazendo a intensificação sustentável da produção, podemos liberar terras para a expansão agrícola."

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