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Práticas empresariais sustentáveis

As oportunidades e os desafios da economia circular

Até o ano de 2050, seremos 9.8 bilhões de pessoas no mundo, segundo o relatório mais recente da ONU. Isso significa que, nos próximos 30 anos, mais de dois bilhões de indivíduos vão se inserir na economia como consumidores e trabalhadores. Esses vão precisar de alimento, água, energia, insumos e produtos. No entanto, sabemos que, desde já, os recursos naturais da Terra não são o suficiente para nós. Neste ano, por exemplo, precisaríamos de 1,7 planeta para suprir a demanda de materiais e insumos que usamos em nossas atividades. O que acontecerá até 2050, se não mudarmos nosso modelo econômico?

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Por Amcham Brasil
Atualização:

Rodrigo Bautista, responsável pelo Programa Design do Forum For The Future, cita alguns riscos já cogitados por especialistas ambientais, profundamente relacionados ao aquecimento global. Geralmente visto apenas como o aumento de temperatura, grande parte da população não vê as consequências que essas mudanças climáticas trazem para a nossa espécie, sociedade e ambiente. O cenário parece complicado: fala-se em escassez de alimentos, novas pragas e doenças com o descongelamento de blocos de gelo nos polos, alterações químicas na composição do ar, o que pode prejudicar a oxigenação dos seres vivos, e oceanos envenenados.

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Bautista também lembra que, com o aumento populacional, a vida urbana terá muitos desafios, já as estimativas apontam que 70% das pessoas vão morar nas cidades até 2050. "Há uma grande questão de como vamos lidar com esses problemas com mais pessoas morando nas cidades. Como as pessoas vão comprar e interagir? Que tipo de empresas e negócios vão surgir para empregá-las?", resume.

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O modelo de extração, fabricação, consumo e descarte começa a ser apontado como o responsável pela atual degradação ambiental. Além do modelo linear de produção, o aumento da população e a ascensão social de alguns grupos nos últimos anos ajudaram a aumentar de forma exponencial o consumo.

E aí que entra o conceito de economia circular. Partindo do pressuposto que diminuir a degradação e aumentar a eficiência de processos não é suficiente para preservarmos o planeta, esse novo modelo propõe mudanças totais. A ideia é atuar em toda a cadeia, desenhando produtos cujos componentes pudessem ser recuperados e reutilizados para voltar ao processo produtivo. Um exemplo seria a reciclagem de lixo eletrônico, gerando matéria prima para a fabricação de novos produtos e evitando a extração de mais recursos.

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O modelo também propõe novos jeitos de consumir: ao invés de comprar algo, usar e descartar, podemos alugar o uso ou compartilhar com outras pessoas - como acontece com o uso de aplicativos para carona. Todo esse processo teria que funcionar com o uso de energia proveniente de fontes renováveis, sem espaço para mais emissão de carbono na atmosfera.

Esse modelo depende totalmente de integração entre iniciativa privada, governo, consumidores e desenvolvimento de novas tecnologias. É um desafio enorme e que tem despertado o interesse de diversas empresas, entidades e órgãos governamentais. A economia circular foi tema de um debate da Virada Sustentável de São Paulo, no dia 25/08, na Fundação Getúlio Vargas. Beatriz Luz, fundadora da Exchange4Change Brasil e uma das participantes do evento, salientou que o Brasil tem muito potencial para se inserir nessa nova proposta, principalmente no quesito de matérias-primas. "A gente tem um país enorme, rico e vasto. E temos que ter um olhar não de desperdício, porque quando temos muita terra e disponibilidade de matéria prima a gente acaba desperdiçando muito. Temos que olhar com uma visão de inovação. A economia circular provoca esse olhar criativo e o brasileiro é muito criativo", explica.

Dentro do fechamento do ciclo produtivo, uma das chaves da economia circular é repensar o design dos produtos, ou seja, trabalhar na composição ou formato que possibilite com que aquele material retorne para a cadeia produtiva. Luz citou um estudo da Ellen MacArthur Foundation que mostra a cadeia das embalagens plásticas, largamente utilizadas pelas indústrias. O relatório divulgado mostra que 50% das embalagens que existem no mercado podem ser recicladas, mas precisam ainda de muita infraestrutura, enquanto 20% poderiam ser substituídas por materiais mais duráveis e reutilizáveis. E ainda existem aquelas que não conseguem ser recicladas - pelo menos não com as tecnologias existem, representando 30%. Ou seja, temos que redesenhar e esse tipo de embalagem.

Rodrigo Bautista afirma que cerca de 80% do impacto de um produto na natureza está relacionado ao design dele e de toda a cadeia logística. "E já começamos a criar soluções. No entanto, no mundo da sustentabilidade, as soluções são caras. Precisamos de demanda para tornar essas soluções mais acessíveis a grande parte da população", salienta. Luz vê o designer como o moderador dessas mudanças de paradigma, capaz de transformar produtos em serviços e consumidores em usuários. Ela lembra que a economia circular não vem como uma solução para todos os problemas ambientais, mas sim como um modelo de negócios capaz de evitar as externalidades que a linearidade de processos provoca.

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Promover a oferta de produtos reciclados para a indústria transformadora, fechando o ciclo de materiais de forma circular. Essa é a proposta resumida do Projeto Novo Ciclo da Danone, segundo Ligia Camargo, head de Sustentabilidade da organização. A iniciativa, parceria com o Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável (INSEA) e o Movimento Nacional dos Catadores (MNCR), tem como objetivos fortalecer os municípios em que atua, ajudar as cooperativas a trabalharem em rede e com os governos locais, capacitar e treinar os catadores em gestão. A organização trabalha principalmente com garrafas PET e PS (plástico vinil), retornando as embalagens recicladas para os fornecedores e evitando a extração de matéria-prima.

"Atuamos em 59 cidades, 70 cooperativas, mais de 1400 cooperados que tiveram um aumento de rendimento mensal em mais de 160%, com aumento de volume ofertado e coletado para eles", explica a executiva. O trabalho promove o desenvolvimento econômico dos catadores e garante a visibilidade da importância da gestão de resíduos para além do cumprimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Segundo a empresa, a organização encerrou o ano de 2015 com 40% da recuperação do volume de embalagens que colocou no mercado, e a expectativa é aumentar a porcentagem a cada ano. A iniciativa acontece em diversos países, teve o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como investidor e concorreu ao Prêmio Eco de sustentabilidade no ano passado.

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