Outra externalidade acontece na rede de esgoto. Quando o óleo de cozinha é jogado em pias e vasos sanitários, ele entra em contato direto com as tubulações do sistema. Pouco a pouco, o resíduo acumula-se nas paredes dos canos e retém consigo outros tipos de materiais que passam pelo local. O resultado disso é o "infarto" do sistema de esgoto. Um levantamento feito pela Sabesp indica que toda a região do centro da capital paulista teve em 12 meses - de junho de 2015 a maio de 2016 - o índice de 185 reparos por quilômetro de esgoto, o equivalente a um desentupimento por quilômetro a cada dois dias.
Bernardo Pires, gerente de sustentabilidade da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE), explica que o descarte errado "além de entupir os encanamentos e trazer prejuízo, acarreta em mais gastos para tratar a água contaminada pelo óleo - ou seja, gera-se um impacto econômico". Segundo a associação, no Brasil, o consumo per capita anual do produto é de 10 litros no uso doméstico. Analisando só o estado de São Paulo, a quantidade chega a 410 milhões de litros/ano. Durante o preparo de alimentos, parte do óleo é assimilada e ingerida. Já o que sobra, de acordo com a ABIOVE, corresponde a cerca de 10%, ou seja, 41 milhões de litros do produto. Esse montante, se despejado de forma incorreta, pode poluir até 820 bilhões de litros de água/ano, número alarmante.
Cooperativas e empresas de reciclagem pagam um valor alto pelo óleo usado - cerca de R$ 1,70 por litro -, o que acaba sendo um negócio vantajoso para estabelecimentos comerciais, como restaurantes e bares, que utilizam um grande volume do insumo. "Várias empresas desejam fazer esse tipo de coleta em função do preço da reciclagem. O grande problema hoje é o óleo utilizado por pessoas físicas. Como o volume menor, a coleta é mais difícil", explica Pires.
Além de campanhas de conscientização e divulgação, uma boa estratégia são os programas de incentivo a coleta de óleo. Um exemplo é o Programa Novo Óleo criado pela Fiagril, empresa do setor de agronegócio. Com a colaboração de moradores, comerciantes, fazendeiros e instituições de ensino de Mato Grosso, a organização criou um sistema de bônus pela arrecadação do produto. No caso das residências, a cada 6 litros de óleo usado, o morador ganha um novo litro, que pode ser retirado em um dos vários pontos de troca credenciados. Outro diferencial é o serviço de coleta. A empresa disponibiliza motoristas para retirar o produto nas residências e estabelecimentos, evitando, dessa forma, qualquer tipo de contaminação. "O formato agradou muito porque a pessoa liga e nós vamos buscar com uma moto. Isso deixa o projeto mais dinâmico", conta Gheorges Rotto, gerente de sustentabilidade da Fiagril. A prática levou a empresa a se inscrever no prêmio ECO em 2015.
Todo óleo recebido é tratado e direcionado para uma das fábricas da empresa, onde é transformado em insumo para o biodiesel, combustível mais sustentável e com menor emissão de carbono. De 2009 para cá, desde que o programa foi criado, as coletas só aumentaram, com mais de 960 mil litros de óleo. Segundo Rotto, os resultados vêm sendo positivos, pois as pessoas mudaram alguns costumes e ficaram mais preocupadas com o ambiente. "Eles participam, entendem e comentam com outros municípios. A população é pequena, mas tem alto índice de produção de coleta".
A Cargill também estruturou ações de logística para tratar o resíduo de um dos seus produtos mais famosos, o óleo LIZA. O Programa, em vigor desde 2010, oferece ao consumidor uma alternativa para o descarte ambiental adequado e já foi implementado em oito estados. Por meio de parcerias, a empresa instalou pontos de coleta em locais como supermercados para ficarem mais próximos dos consumidores, segundo Márcio Barela, coordenador de sustentabilidade da Cargill Foods Brasil. A iniciativa também concorreu ao prêmio Eco no ano de 2014.
Empresas especializadas são contratadas para passar nos pontos de coleta e processar o resíduo. De acordo com Barela, desde o início do programa, já foram arrecadados um milhão e 700 mil litros de óleo residual. Além do ganho ambiental, essa sobra tem um enorme potencial econômico e pode ser usada em diversos produtos como sabão, tintas e vernizes. O principal destino do óleo reciclado hoje é na produção de biodiesel. Segundo boletim da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Combustível (ANP) de dezembro de 2016, do total de biocombustível produzido hoje, 71% vem da soja, 15% de gordura bovina e 7% outros materiais graxos. O óleo de fritura representa apenas 0,75% desse total. "Com a maior demanda por biodiesel, essa proporção de óleo deve aumentar e, consequentemente, a demanda do resíduo também. Isso movimenta toda a cadeia de reciclagem", identifica Barela.
O plano da empresa é estender o programa para todo o Brasil, ampliando as ações principalmente nas regiões Norte e Nordeste.
Como armazenar e coletar o óleo usado em casa?Após utilizar o óleo, deixe esfriar por pelo menos 30 minutos. Com a ajuda de um funil, coloque o material em uma garrafa de plástico e feche bem para evitar vazamentos, odores e insetos. Quando armazenar uma boa quantidade, leve as garrafas a um ponto de coleta - são cerca de dois mil espalhados pelo Brasil, segundo a ABIOVE. Diversos sites disponibilizam os endereços desses pontos, como o site do óleo Liza, o do programa Óleo Sustentável ou por meio de aplicativos, como o Vitaliv (App disponível apenas para a cidade de São Paulo).
Entenda a importância da caixa de gorduraO recipiente tem como objetivo reter o óleo e a gordura que são despejados na pia, evitando a obstrução das tubulações da rede de esgoto. Basicamente, como um mecanismo de filtro, ele separa a água que deve correr pelos canos e concentra os outros resíduos, que ficam na superfície do recipiente, já que a gordura flutua na água.
As caixas são indicadas para cozinhas grandes, principalmente as de estabelecimentos comerciais.Para funcionar de forma efetiva, a manutenção periódica de limpeza é necessária.