Publicidade

OGX, petroleira de Eike Batista, confirma calote de US$ 45 milhões

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Atualizado às 21h

PUBLICIDADE

A petroleira OGX, do empresário Eike Batista, não pagou os juros sobre bônus no exterior que venceriam nesta terça-feira, no primeiro passo do que pode vir a ser o maior calote da história de uma empresa latino-americana.

"A companhia optou pelo não pagamento das parcelas referentes aos juros remuneratórios, no valor aproximado de US$ 45 milhões, decorrentes das Senior Notes emitidas pela OGX Austria, controlada da companhia, as quais venceriam na data de hoje", informou a petroleira, em fato relevante.

O não pagamento dos juros referentes à dívida de US$ 1,1 bilhão em bônus com vencimento em 2022 já era amplamente esperado, diante da crítica situação de caixa da empresa.

O bônus possui, entretanto, cláusula que dá ao emissor prazo de 30 dias para honrar o compromisso, como havia antecipado reportagem do Broadcast com fontes. Depois desse prazo, a empresa está sujeita à aceleração do pagamento de outras dívidas, especialmente as bancárias, e pode ser levada à falência. No final de junho, a dívida da OGX com bancos somava R$ 8,7 bilhões, de acordo com o balanço da companhia.

Publicidade

Em fato relevante enviado ao mercado, a petroleira do grupo do empresário Eike Batista diz que se encontra "em processo de revisão de sua estrutura de capital relacionada, por sua vez, à revisão do seu plano de negócios", o que teria motivado o não pagamento das parcelas referentes aos juros remuneratórios dos bônus no exterior.

Os bancos de investimentos contratados para discussões com os detentores desses títulos são Lazard e Blackstone.

No mercado. Após abrirem com queda de quase 5% e renovarem a mínima histórica ao bater R$ 0,20, as ações da OGX inverteram o sinal e fecharam com alta de 14,29%, liderando as maiores valorizações do Ibovespa nesta terça-feira. Influenciada por esse papel, a Bolsa de Valores de São Paulo encerrou com ganho de 1,61%, aos 53.179 pontos - na máxima do dia.

Segundo operadores, a alta pode ser classificada como "short squeeze" no jargão do mercado, quando investidores correm para zerar posições vendidas no papel, para fugir dos riscos de uma potencial suspensão da negociação com as ações da petroleira, caso a empresa entre com pedido de recuperação judicial.

Entenda. Eduardo Boccuzzi, da Boccuzzi Associados, explica que, em geral, os contratos de financiamento, especialmente de bancos, possuem cláusulas de "cross default", ou seja, se uma dívida não é paga, as demais dívidas também vencem antecipadamente. "Diante do cenário desenhado até agora, pode-se deduzir que o caminho natural é o pedido de recuperação judicial, para que a companhia renegocie toda a dívida, no atacado, e evite o pedido de falência pelos credores."

Publicidade

Por isso, a OGX já teria tomado algumas atitudes recentemente, como a nomeação do novo diretor financeiro e de Relações com Investidores, Paulo Narcélio Simões Amaral, no último dia 23, e a contratação da consultoria financeira independente Lazard para trabalhar junto com a Blackstone na reestruturação do passivo.

PUBLICIDADE

Uma fonte do mercado de dívida com proximidade aos credores externos disse na sexta-feira que a renegociação dos US$ 3,6 bilhões em dívida externa da OGX acontecerá durante o processo de recuperação judicial e que as discussões da empresa com os credores externos continuam em fase inicial.

A mesma fonte disse ainda que a proposta de transformar em capital acionário o passivo de bônus externos não é descartada, mas precisa ser trabalhada. Segundo um advogado, essa opção é uma "cortina de fumaça" e não teria sentido porque seria difícil converter toda a dívida e se, apenas parte dela fosse trocada, continuaria não existindo a garantia do pagamento dos bônus.

Para um profissional de dívida isso também traria muita resistência dos detentores de ações que procurariam conturbar as negociações com ações judiciais para impedir a diluição das ações.

"O maior desafio nesse momento é conseguir que o campo de Tubarão Martelo produza o mais rápido possível, o que traria benefício aos credores da OGX e aos credores da OSX", disse um outro profissional do mercado de dívida. O campo de Tubarão Martelo, na Bacia de Campos, é o único em fase de desenvolvimento que teve seu cronograma mantido pela petroleira de Eike Batista.

Publicidade

Para conseguir viabilizar a operação, a companhia precisa renegociar sua dívida e de uma injeção de dinheiro novo, talvez por meio da petrolífera malaia Petronas, acrescentou a fonte, lembrando que os processos de renegociação de dívida que envolvem muitos credores, normalmente, são longos. Entre os maiores credores externos da OGX estão Pimco e BlackRock, que têm papéis da companhia distribuídos em fundos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.