Como salvar a TV Cultura?

Há um grupo no Facebook que se dispõe a salvar a TV Cultura. Do quê? Como? Em favor de quem? Eis aí alguns temas que gostaria de discutir com o leitor que se preocupa com as TV pública.

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Por Ethevaldo Siqueira
Atualização:

Que acha você da TV Cultura nesta nova fase? Meu critério para avaliar essa emissora é o mais objetivo e simples. Acho que a boa árvore se conhece pelos frutos. Esse critério pode servir para julgar, também, uma emissora de TV, cujos frutos são seus programas. Assim, me interessa discutir o que está acontecendo na TV Cultura. Digo, com todas as letras: quero, antes de mais nada, uma boa programação, melhor conteúdo, melhor qualidade da comunicação, maiores horizontes culturais.

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Por que estou escrevendo este artigo? Porque vi no Facebook um grupo aberto denominado Salvar a TV Cultura. Nele me inscrevi mas, talvez por alguma falha de configuração, não consegui postar o texto que divulgo aqui, com pequenas alterações. Publiquei aquele texto no grupo do Facebook denominado eTICs, formado por jornalistas que cobrem os setores de Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs).

Minha proposta aqui é levantar o debate sobre o tema, com uma abordagem exclusiva de telespectador e cidadão que paga uma parcela da conta de todas as TVs públicas do País.

Se você assiste, regularmente, a TV Cultura, participe deste debate, com sua avaliação e sugestões para melhorá-la, aprimorá-la, pra valer.  Minha avaliação é a seguinte:

Como telespectador, estou gostando das mudanças introduzidas na programação da TV Cultura. É claro que ela está longe de ser uma BBC, a melhor TV pública do mundo. Mas é, de longe, a melhor de todas as TVs públicas, estatais ou educativas do País.

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O Jornal da Cultura tem o melhor nível dos últimos 20 anos, com comentaristas que analisam diversos aspectos das notícias mais importantes. As matérias de pesquisa são bem cuidadas, isentas, com profundidade mas acessíveis ao grande público.

Na Cultura, tenho visto os melhores documentários da TV aberta brasileira nos últimos meses. Aos sábados e domingos à tarde, tenho assistido a magníficos concertos de música erudita, no programa Clássicos, com comentários e explicações de um maestro. Só a TV Senado tem alguma coisa parecida.

Não vou cansar ninguém com a lista de coisas que melhoram na programação, inclusive programas tradicionais de música sertaneja, como o Viola Minha Viola, de Inezita Barroso e o Senhor Brasil, de Rolando Boldrin. Ou o Ensaio, com a melhor música popular brasileira. Ou o Roda Viva - que, como todo programa de entrevistas, pode ter altos e baixos - mas que é o espaço de telejornalismo de maior tradição e prestígio na TV brasileira. Ou o Cartão Verde - melhor programa de debates esportivos na TV brasileira. Ou o novo Metrópolis. Ou Provocações, com Abujamra. E toda a programação infantil.

Não vejo nenhum mal em programas independentes produzidos por jornais, como o TV Folha, da Folha de S. Paulo, ou qualquer outro veículo, que possam trazer novas visões, maior diversidade de conteúdo e de debates.

Duas coisas para completar:

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1) Internet -- É extraordinária a renovação da Cultura na internet (www.tvcultura.cmais.com.br) - hoje com um conteúdo muito mais rico, matérias muito mais profundas e a possibilidade de rever os melhores programas em gravações recentes ou históricas. Só quem acessa esse site pode avaliar corretamente o que está ocorrendo na TV Cultura hoje.

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2) Multiprogramação -- Além do canal tradicional da TV Cultura, é preciso avaliar também os dois canais adicionais em multiprogramação na TV digital, o 2.2 da Univesp e o 2.3 da Multicultura - introduzidos na gestão de Paulo Markun, contra a vontade do ex-ministro das Comunicações, Hélio Costa. É muito positiva a evolução desses dois canais.

Eu também quero salvar a TV Cultura. Sabem do quê? Do retrocesso, do empreguismo, do aparelhamento político-partidário ou sindical, do empreguismo, da estagnação que caracteriza o velho modelo das TVs estatais. Tudo isso já aconteceu, em grau maior ou menor, em diversos momentos, ao longo dos 43 anos de vida dessa emissora.

Lembro a todos: não pertenço a nenhum partido nem dou aqui meu depoimento em nome de outro interesse que não seja o de um cidadão e telespectador que quer a melhor TV pública para São Paulo e para o Brasil. Sei que construir essa televisão é um imenso desafio.

Mas é bom lembrar que a TV Cultura não pode ser propriedade de nenhum partido, de nenhum governo, nem de nenhum sindicato. E não me preocupa se o presidente da Fundação é do Partidão, petista, tucano ou monarquista - desde que seja sério e tenha um bom projeto.

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Como milhões de brasileiros, busco uma boa alternativa à TV comercial - que tem bons programas, mas tem muita coisa de baixo nível, como os reality-shows, bobageiras de auditório, enlatados medíocres.

Sem ofender a ninguém, eu gostaria de dialogar com toda a franqueza sobre o futuro da TV Cultura, cuja existência acompanho desde sua inauguração no dia 15 de junho de 1969, na condição de jornalista da área de comunicações e tecnologia da informação. Tenho escrito dezenas de artigos e reportagens sobre a TV e a Fundação. Sou, antes de tudo, um telespectador e um cidadão que quer uma TV pública de verdade para o Brasil. Durante seis anos, fui integrante do Conselho Curador, de 2001 a 2007.

Minhas premissas são claras: não busco nenhum interesse sindical, partidário, político-ideológico ou de qualquer outra natureza, embora respeite o direito daqueles que defendem suas ideias neste espaço.

Sei que a resposta de alguns salvacionistas a este meu depoimento será, talvez, uma ofensa pessoal, em lugar da refutação aos meus argumentos. Não importa, não revidarei nenhum ataque pessoal. Meu propósito é salvar da TV Cultura de todos os males que acabo de relacionar.

Um abraço a todos.

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