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Opinião|Cadê o novo presidente do BC?

Não pegou bem no mercado financeiro o adiamento do anúncio do novo presidente do Banco Central

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Atualização:
Meirelles ainda não conseguiu fechar todos os cargos e preferiu adiar o anúncio Foto: Andressa Anholete|AFP

Não pegou bem no mercado financeiro o adiamento do anúncio do novo presidente do Banco Central em substituição a Alexandre Tombini. Por enquanto, o sentimento é de desconforto, refletido nas taxas dos contratos futuros de juros, que logo após a abertura dos negócios começaram a subir, mesmo que levemente.

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O anúncio foi prometido para hoje pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, durante sua entrevista coletiva a jornalistas na sexta-feira passada. Outros nomes importantes para a equipe econômica também ficaram de ser anunciados, mas o adiamento do anúncio do novo presidente do BC trincou o cristal.

Isto é: o mercado não deve embarcar com tanto otimismo nas promessas feitas por Meirelles. As intenções do ministro são boas. As medidas propostas, idem. Mas a entrega do que ele vem prometendo, mesmo em linhas gerais, já não é dada como bastante provável.

Se a negociação para nomear a equipe econômica enfrenta tantos obstáculos e se prova bem mais difícil do que se imaginava, a aprovação das medidas fiscais e de reformas estruturais necessárias - e polêmicas - pode ser bem mais complicada e incerta do que os preços dos ativos embutiam recentemente.

Interlocutores desta coluna atribuem o atraso no anúncio do escolhido para comandar o BC à perda do foro privilegiado ao se retirar o status de ministério da instituição. E acreditam que esse é um obstáculo que será contornado por Meirelles.

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É bem provável que seja essa mesma a explicação.

Todavia, é preciso olhar o simbolismo desse episódio: Meirelles prometeu algo e já não entregou.

O mais surpreendente é que até a sexta-feira passada a imprensa vinha publicando matérias de bastidores - alimentada por informações em "off the record" de pessoas muito próximas a Meirelles e ao presidente em exercício, Michel Temer - de que o escolhido para substituir Tombini seria o economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn.

Mas no fim de semana pipocaram matérias de TV e comentários nas redes sociais de que a indicação para o cargo de presidente do BC ainda estava em aberto, com dois nomes cotados: além de Goldfajn, estaria na disputa Mário Mesquita, sócio do banco Brasil Plural. É estranho que, já com o barco andando, ainda esteja em aberto a escolha do presidente da instituição.

De qualquer forma, os interlocutores desta coluna apostam que Goldfajn deverá ser mesmo o novo presidente do BC, mas que a indefinição sobre o anúncio do seu nome causa desconforto. Não só pelo atraso, mas pelo "conjunto da obra" desde a posse do presidente em exercício, ou seja, a polêmica e a resistência causadas pelos primeiros anúncios do governo Temer.

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Estresse mesmo será se amanhã, como agora promete o Ministério da Fazenda, não for anunciado o restante da equipe econômica.

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A questão que começa a incomodar quem estava com uma postura mais otimista em relação ao governo Temer - refletindo isso nas apostas para dólar e bolsa - são as resistências enfrentadas por ele na largada do seu mandato provisório.

Primeiro, vieram as críticas em relação à composição de seu ministério. A última polêmica é a falta de mulheres e negros. Em seguida, vários aliados começaram a dar declarações contra as propostas de Meirelles a pontos cruciais do ajuste, mais especificamente à recriação da CPMF e à adoção de uma idade mínima para aposentadorias.

Em muito pouco tempo, o governo Temer passou para uma posição defensiva, tendo que se explicar e pisar em ovos. Não à toa que Temer e Meirelles apareceram em entrevistas exclusivas ao programa Fantástico, da rede Globo.

É recomendável que Temer e Meirelles decidam mesmo atender à imprensa para explicar, engajar a sociedade e contornar opiniões contra as propostas. Por outro lado, essa exposição mostra que a aprovação das reformas necessárias pode não ser tão provável como o placar da votação do impeachment na Câmara e no Senado deu a entender.

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A melhor postura dos investidores agora é: esperar para ver.

Fábio Alves é jornalista do Broadcast

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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