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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Com Trump, adeus corte de 0,50 ponto no Copom

Eleição de Donald Trump nos EUA tem o potencial de uma turbulência mais prolongada do que o Brexit

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Atualização:

Como desfecho inesperado de uma novela mexicana, quando a mocinha termina com o vilão e não com o herói, a eleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos e a vitória dos republicanos para o controle da Câmara dos Deputados e o Senado americano tem o potencial de uma turbulência mais prolongada do que o Brexit, quando os britânicos votaram pela saída da União Europeia.

A pergunta crucial para o Brasil é: quão sustentável será essa turbulência provocada por Trump?

Tudo vai depender do que o novo presidente americano falar e agir nos próximos dias. No seu discurso de vitória, ele diminuiu em vários decibéis o tom agressivo adotado na campanha, inclusive chegando a elogiar a rival democrata Hillary Clinton.

( Foto: Mark Wilson/AFP)

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O fato é que se os investidores internacionais entenderem que o movimento de aversão a risco reprecificará o valor do dólar frente às principais moedas internacionais, em particular o real brasileiro, então os bancos centrais, por exemplo, terão de embutir esse novo elemento no balanço de risco.

Até os americanos irem às urnas ontem, nem de longe a vitória de Trump e o controle do Congresso pelos republicanos estavam embutidos nos preços dos ativos.

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Poderá o real mudar de patamar em relação ao dólar ou a alta observada na abertura da sessão de negócios hoje foi apenas uma reação inicial intempestiva?

Até a última reunião do Copom deste ano, marcada para os dias 29 e 30 de novembro, será possível o Banco Central medir com algum grau de confiança o impacto mais demorado do que Trump poderá fazer na economia americana?

Provavelmente, não.

Até porque o republicano é considerado o candidato mais imprevisível entre todos os que já concorreram ao comando da maior economia do mundo.

Isso por si só reforçaria uma postura de cautela do BC.

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Acelerar o ritmo de aperto monetário de 0,25 ponto porcentual, como aconteceu no Copom de outubro, para 0,50 ponto num momento de transição dos mercados mundiais - ainda se ajustando ao risco Trump - seria se colocar numa posição vulnerável de ter de recuar no aperto caso a aversão a risco volte com força e afete o cenário doméstico.

Obviamente, a magnitude da recessão no Brasil, com a abertura do hiato do produto, abre espaço para o BC seguir cortando os juros.

Mas o que está em jogo neste momento é ainda a construção da credibilidade do BC e de seu presidente, Ilan Goldfajn.

Um ponto mais tranquilizador seria Trump, agora como presidente, vir a público e oficialmente endossar o seu apoio à presidente do Federal Reserve, Janet Yellen. Ela fica no cargo até fevereiro de 2018. Durante a campanha presidencial, Trump havia prometido demitir Yellen.

Se Trump decidisse mantê-la no cargo, ou ao menos sugerir isso no curto prazo, o grau de incerteza iria diminuir bastante, o que é positivo para os ativos de risco, como os de mercados emergentes.

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O grau de preocupação é tamanho com o que está por vir com Trump que o presidente do BC mexicano e o ministro da Fazenda daquele país convocaram a imprensa para uma entrevista coletiva logo cedo hoje. Após a vitória de Trump ficar mais clara, ao longo desta madrugada, o peso mexicano chegou a cair 13% no pregão da Ásia.

Por aqui, Goldfajn, em breve declaração a jornalistas na saída do Ministério da Fazenda mais cedo, disse que o BC está acompanhando os mercados globais e do Brasil e, caso necessário, "tomaremos as medidas adequadas".

Ainda é cedo, obviamente, para Goldfajn fazer uma análise mais sólida sobre o risco Trump. Todavia, no Copom de novembro ainda será cedo para o BC acelerar o ritmo de corte de juros com alguma garantia de que o novo presidente americano não causará mais à frente uma turbulência desestabilizadora dos mercados.

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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