Em relatório enviado a clientes hoje sobre vários países de mercados emergentes, o estrategista Simon Quijano-Evans, do fundo Legal & General Investment Management, com mais de 1 bilhão de euros em ativos, fez uma única menção ao Brasil.
Não foi sobre a inflação nem sobre os juros, tampouco sobre a expectativa para a retomada da atividade econômica. Foi sobre o caos nos serviços públicos e o reflexo político disso para o governo Michel Temer.
"Extrema violência em um Estado [com a greve da Polícia] enfatiza os desafios do governo em lidar com as finanças estaduais num momento em que acaba de embarcar na tão esperada reforma da Previdência. As estrelas ainda estão do lado do governo, mas o tempo não está...", escreveu Quijano-Evans.
Só para ficar em três episódios dos últimos dias que ameaçam a estabilidade política:
1) A grande Vitória, no Espírito Santo, amanhece nesta sexta-feira em mais um dia sob o caos da segurança pública. Logo cedo hoje, por exemplo, as redes sociais foram dominadas por boatos de que a PM do Rio de Janeiro também havia entrado em greve;
2) A foto da "sabatina informal" de senadores ao ministro afastado da Justiça, Alexandre de Moraes, realizada no barco do senador Wilder Morais (PP-GO) ganha manchetes de jornais;
3) O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), dá prazo de 24 horas para Temer explicar os motivos da nomeação de Moreira Franco para ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, a qual está suspensa por liminar da Justiça.
O governo Temer enfrenta uma crise política por ter se fiado demasiadamente no clima de "já ganhou" após o Banco Central ter iniciado um ciclo mais agressivo de corte de juros e também ter conseguido colocar aliados dele e do PMDB no comando da Câmara dos Deputados e do Senado.
O caos financeiro nos Estados brasileiros, culminando no capítulo mais recente da greve dos policiais militares no Espírito Santo, já está no radar dos investidores estrangeiros.
E não há declarações otimistas por parte do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente do BC, Ilan Goldfajn, que possa colocar em segundo plano o nervosismo com a crescente crise política.
Por enquanto, o mercado financeiro está monitorando com atenção qualquer informação vinda do STF em relação à nomeação de Moreira Franco para ministro.
Só para lembrar: na primeira liminar que suspendeu a nomeação, o juiz Eduardo Rocha Penteado, da 14ª Vara Federal do Distrito Federal, citou o caso do ex-presidente Lula que foi nomeado ministro pela ex-presidente Dilma Rousseff e lembrou que o ministro Gilmar Mendes, do STF, reconheceu que configurava "desvio de finalidade o ato do Presidente da República que nomeia Ministro de Estado com o propósito de conferir a este foro por prerrogativa de função".
No episódio Lula, o STF adiou em abril do ano passado a decisão sobre a nomeação dele e, com o impeachment de Dilma, o ministro Gilmar Mendes, do STF, decidiu extinguir o mandado de segurança que suspendia a nomeação de Lula, uma vez que, com a saída da presidente do cargo, ele foi exonerado. Ou seja, o STF nunca se pronunciou sobre o tema.
Em nota a clientes hoje, os analistas da consultoria LCA dizem acreditar que o STF acabará por manter a nomeação de Moreira Franco para ministro.
De qualquer forma, independentemente da decisão do STF, a crise política está instalada e ameaça engolir qualquer otimismo incipiente com a economia.