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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Dólar a R$ 3 em 2015?

Caso programa de intervenção no mercado de câmbio seja abandonado, moeda americana pode seguir em processo de valorização nos próximos meses

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Futuro do câmbio: mercado aposta em tendência de alta Foto: Estadão

Não há muito mais como o Brasil adiar um ajuste no câmbio: além da tendência de valorização do dólar frente às principais moedas internacionais, como reflexo do aperto monetário que se aproxima nos Estados Unidos, os desequilíbrios macroeconômicos no Brasil exigem um real bem mais desvalorizado.

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É nesse contexto que se situa o debate sobre se o Banco Central deve interromper em 2015 o programa de intervenção diária no câmbio. Foi essa intervenção que conteve uma maior alta do dólar ao longo deste ano. Se o programa for abandonado em 2015, não se descarta um dólar acima de R$ 3 em algum momento do ano que vem.

Até o momento, o estoque de contratos de swaps ofertados pelo BC soma ao redor de US$ 100 bilhões desde que o programa teve início em agosto de 2013. E nos últimos meses, o BC vem colocando na margem uma oferta em termos líquidos entre US$ 2,5 bilhões a US$ 4 bilhões ao mês.

Quanto ao estoque, estaria o BC preocupado com o tamanho dele? Vai reduzi-lo ao longo do tempo?

No entender de interlocutores desta coluna, o presidente do BC, Alexandre Tombini, não considera o tamanho desse estoque uma preocupação de curto e médio prazo e também que existe um elemento de diversificação das reservas internacionais, com consequente diminuição do custo de carrego.

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E, além disso, esses contratos de swaps já ofertados são liquidados em reais, o que retira a urgência de eliminar esse estoque de US$ 100 bilhões que vence ao longo dos próximos 12 meses.

Se o BC estiver, de fato, preocupado com esse estoque, então teria que começar a comprar US$ 100 bilhões, o que, certamente, colocaria pressão adicional sobre a taxa de câmbio.

Todavia, o BC continua ofertando entre US$ 2,5 bilhões a US$ 4 bilhões todo mês, aumentando o estoque.

Irá, então, o BC seguir fazendo colocação líquida de dólar no mercado todo mês em 2015? Ou seja, o BC vai deixar de fazer oferta líquida ou vai apenas rolar o estoque?

Diante das condições macroeconômicas do Brasil neste momento, muitos interlocutores desta coluna acreditam que chegou a hora de pôr fim à intervenção diária no câmbio com colocação líquida de dólar no mercado.

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Embora o mercado esteja prevendo (conforme a pesquisa Focus) um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de apenas 0,19% em 2014, o País deverá registrar um déficit em conta corrente de US$ 83 bilhões, ou quase 4% do PIB.

O que aconteceria com o déficit de conta corrente quando a economia estiver crescendo num ritmo mais acelerado?

Não há como fugir de um ajuste no câmbio para tentar resolver esse desequilíbrio.

A diferença de se fazer isso em 2015 é que, ao contrário do que ocorreu desde 2012, analistas e investidores estão mais confiantes agora de que, com a nomeação de Joaquim Levy para ministro da Fazenda, esse ajuste no câmbio terá um auxílio importante em termos de aperto das políticas fiscal e monetária. Isso tornaria muito mais fácil deixar o câmbio flutuar, com a consequente alta do dólar.

Pois com política fiscal e monetária mais apertada, a demanda por hedge cambial diminui, ao se reforçar, entre outros fatores, a credibilidade com a política econômica. Sem contar que esse novo rumo da política econômica reduziria a possibilidade de o Brasil perder a classificação soberana de risco de grau de investimento, o que incentivaria os investidores estrangeiros a seguirem financiando essa transição no câmbio no Brasil.

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E de quanto seria esse ajuste no câmbio?

Como os preços das commodities seguem em baixa e o dólar deve continuar se fortalecendo, o Brasil teria que promover um ajuste no câmbio real nos próximos 18 meses.

Alguns analistas acreditam que o ajuste necessário é de 15% em termos reais no médio prazo, até porque a inflação brasileira é muito mais alta do que os nossos principais parceiros comerciais.

Sendo otimista em relação à inflação em 2015 e 2016 e estimando que o IPCA ficaria ao redor de 6% nos próximos dois anos, o dólar teria que se apreciar nominalmente pelo menos 27% até o final de 2016 - obviamente numa conta rudimentar.

Por volta das 11h40 da manhã desta terça-feira, o dólar estava cotado a R$ 2,5690, depois de ter atingido a máxima de R$ 2,5710. Em 2014, o dólar já acumula alta de mais de 9%.

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Então, a questão básica é como o governo vai gerenciar esse ajuste no câmbio, pois se ele for feito de forma desordenada, o estrago será grande em termos de inflação, investimentos, etc.

Assim, não é tão urgente reduzir o estoque de swaps cambiais, mas o BC precisa, sim, deixar de fazer uma colocação líquida de dólar, permitindo uma depreciação do real.

* Fábio Alves é jornalista do Broadcast

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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