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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Estrangeiros de olho na queda dos juros

Fluxo de Investimento Direto no País deve reagir menos à piora de indicadores de atividade e focar a atenção na trajetória da inflação

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 Foto: André Dusek/Estadão

O fluxo de Investimento Direto no País (IDP) deve reagir menos à piora de indicadores de atividade, em particular uma piora esperada para a taxa de desemprego, e focar a atenção na trajetória da inflação corrente e das expectativas inflacionárias.

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A avaliação foi feita a esta coluna por um grande investidor americano, para quem a política monetária é um dos principais indicadores antecedentes de fluxos de IDP.

"Bancos centrais percebidos com credibilidade parecem desempenhar um papel fundamental em influenciar a atitude de investidores mais até do que os números de indicadores macro per se", afirmou o investidor americano, responsável por um dos mais antigos fundos dedicados à América Latina.

E a sinalização sobre os próximos passos da política monetária poderá se sobrepor aos indicadores de atividade que apontem até para um aprofundamento da recessão no curto prazo.

"Nesse sentido, a percepção de que o Banco Central poderá cortar a taxa de juros no segundo semestre de 2016 terá um peso grande na decisão dos investidores estrangeiros", explicou a fonte. "Isso porque se o BC acredita que há condições para cortar juros, isso pode ser um indicador antecedente para uma melhora no emprego e um retorno do crescimento econômico no futuro."

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Por essa razão, esse investidor americano ressaltou que, se a trajetória do IPCA seguir surpreendendo para baixo, os estrangeiros vão fechar os olhos para a piora na taxa de desemprego no curto prazo.

Desde que o IPCA começou a desacelerar mais fortemente do que as estimativas dos analistas, segundo ele, o fluxo de recursos estrangeiro para o Brasil vem aumentando.

Na mais recente pesquisa Focus, do BC, as estimativas da inflação para 2016 foram revisadas para baixo pela oitava semana consecutiva, marcado agora uma alta de 6,94%. Para 2017, os analistas preveem uma inflação de 5,72%, numa redução dessa projeção pela quarta semana consecutiva. E para 2018, a previsão de inflação foi reduzida de 5,20% para 5,0%.

Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), a projeção para 2017 foi revisada para cima pela segunda semana consecutiva. Os analistas esperam agora um crescimento de 0,4% do PIB em 2017 em comparação com expansão de 0,3% na semana anterior. E para os juros, os analistas preveem uma taxa Selic a 13,25% ao fim de 2016 e a 11,75% ao fim de 2017.

Obviamente, há ainda o contexto do otimismo com a aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff e uma eventual troca de governo, com correção da política econômica em curso.

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Mas a desaceleração da inflação corrente e a queda nas projeções do IPCA, alimentando a expectativa de um corte mais agressivo dos juros básicos, vêm desempenhando um papel importante nas decisões do investidor estrangeiro, segundo a fonte acima. "Temos visto grande fluxo em renda fixa e em ativos imobiliários, incluindo os FII (fundo de investimento imobiliário)", disse.

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No caso dos FII, como as cotas negociadas em bolsas de vários fundos estão abaixo do valor do ativo real, a queda na taxa básica de juros deve valorizar os imóveis, atraindo os investidores estrangeiros.

Por esse raciocínio, uma eventual piora nos resultados da produção industrial, vendas no varejo e taxa de desemprego deve pesar menos na decisão de alocação de recursos para o Brasil do investidor estrangeiro do que o risco de uma desaceleração mais forte da inflação e das expectativas inflacionárias, levando o BC a antecipar o início de um ciclo de corte de juros.

"Muitos investidores estrangeiros veem o desemprego como um indicador com defasagem, por isso se a taxa Selic cair, o PIB pode ter um impulso e, por fim, o desemprego cai também", disse a fonte. "Mas isso não quer dizer que o investidor estrangeiro já adotou uma postura confortável em relação ao Brasil no longo prazo."

Ou seja, há ainda muito a ser feito num eventual governo Temer para o Brasil se tornar o queridinho dos investidores estrangeiros novamente, mas muitos deles estão abertos à hipótese de que, com uma mudança na equipe econômica e aprovação de medidas fiscais urgentes, o pior da crise já ficou para trás.

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Fábio Alves é jornalista do Broadcast

Opinião por Fábio Alves

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