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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|'Guerra' do PMDB pode atrapalhar votação de medidas do ajuste fiscal

Mercado teme um acirramento da disputa entre Renan e Cunha

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A queda de braço entre os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, em torno do projeto que regulamenta a terceirização acendeu um temor no mercado financeiro de que essa disputa evolua para uma guerra fratricida no PMDB, atrapalhando a votação das medidas do ajuste fiscal.

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Uma guerra resultará em prejuízo não somente para Calheiros e Cunha, como também para o PMDB. A questão é o que será preciso para desanuviar a tensão e acomodar os interesses dos dois lados. Para tanto, o vice-presidente do País, Michel Temer, e até a presidente Dilma Rousseff terão que agir para evitar que esse embate entre Calheiros e Cunha seja apenas temporário, inclusive para não prejudicar o governo como um todo.

No último capítulo do embate, Cunha disse na quinta-feira que poderá retaliar o presidente do Senado em votações de matéria de interesse dos senadores. Antes, Calheiros havia ventilado a possibilidade de "engavetar" o projeto de terceirização aprovado na Câmara na quarta-feira, dia 22 - com empenho do próprio Cunha para votá-lo rapidamente e assim impor mais uma derrota ao governo.

Na origem da crise entre os dois caciques do PMDB está a perda de espaço por Calheiros, quando o seu aliado político Vinícius Lages foi substituído por Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) - aliado do presidente da Câmara - no comando do Ministério do Turismo. Lages estava interino, mas o presidente do Senado tinha esperança de manter o seu afilhado na pasta.

No meio do desenrolar dessa disputa está a votação das medidas provisórias do ajuste fiscal, as MPs 664 e 665, que tratam da restrição ao acesso a benefícios trabalhistas e previdenciários, fundamentais para o governo conseguir atingir a meta de superávit primário de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015.

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A votação dessas duas MPs nas comissões mistas do Congresso está prevista para a próxima semana.

Interlocutores desta coluna disseram acreditar que o embate entre Calheiros e Cunha em torno do projeto de terceirização não deve afetar a votação das MPs 664 e 665 nas comissões mistas na próxima semana.

Até porque, dizem analistas ouvidos por esta coluna, há a expectativa de que o governo Dilma já esteja trabalhando nos bastidores para compensar de alguma forma Renan Calheiros pela perda de espaço com a substituição de Lages no Ministério do Turismo.

Compensação por espaço perdido no governo à parte, o embate em curso entre Calheiros e Cunha também pode ser vista como uma disputa interna pela liderança, pelo controle no PMDB.

Não há como negar diante da gestão recente do PMDB que o partido está mirando as eleições presidenciais de 2018 com pretensões a ter um candidato próprio e não mais ficar a reboque do PT.

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Nesse sentido, esse atrito entre Calheiros e Cunha pode ter também como pano de fundo o pleito presidencial de 2018 e quem vai ditar os rumos que o PMDB seguirá até lá.

Se a presidente Dilma conseguir acomodar algum aliado direto de Renan Calheiros numa posição importante no governo, ou pelo menos algo que compense a perda de um Ministério, é muito provável que a batalha entre os presidentes do Senado e da Câmara seja temporária e alguma trégua seja anunciada para breve.

Até porque o prolongamento dessa disputa poderá atrapalhar o projeto pessoal tanto de Calheiros e Cunha. O problema é o efeito colateral adverso dessa disputa respingar para o governo, atrapalhando a votação de matérias de seu interesse.

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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