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Opinião|Nova meta de inflação para 2017?

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Atualização:
Sede do Banco Central em Brasília Foto: Estadão

É crescente a especulação no mercado financeiro de que o Banco Central pode reduzir a meta de inflação do patamar atual de 4,5% para 4% ou 4,25% em 2017.

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Um dos combustíveis para esse rumor está no fato de o BC ter antecipado a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) referente ao segundo trimestre deste ano para a próxima quarta-feira, dia 24, um dia antes da reunião prevista do Conselho Monetário Nacional (CMN), o qual tem como prerrogativa fixar a meta de inflação.

É preciso ressaltar que a redução dessa meta vem sendo sugerida ao BC por vários ilustres economistas brasileiros, mas até hoje não se teve nenhuma reação pública da autoridade monetária a respeito do assunto, nem mesmo um balão de ensaio.

É bom lembrar também que, durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, o grande obstáculo para a redução da meta de inflação chamava-se Guido Mantega, o ministro da Fazenda. O atual ocupante do cargo, Joaquim Levy, é visto pelo mercado como alguém que não se oporia a um movimento como esse.

Outro rumor do mercado tem como alvo a meta de inflação de 2016. Há quem acredite que o BC poderia anunciar uma meta ajustada para 2016, ao redor, por exemplo, de 5%, pois seria uma tarefa muito difícil e custosa trazer a alta do IPCA de 9% ou mais neste ano para 4,5% no ano que vem.

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Tal meta ajustada não causaria tanto estrago em termos de credibilidade se, ao mesmo tempo, o BC reduzisse o alvo para 2017, na visão de alguns interlocutores.

Isso, por enquanto, não passa de especulação.

Mas faria sentido ou seria recomendável o BC reduzir a meta de inflação para 2017?

Num momento em que o BC vem endurecendo seu discurso, numa postura "hawkish" (inclinada ao aperto monetário) raramente vista na autoridade monetária desde o início do governo Dilma, em 2011, anunciar uma redução da meta de inflação para 2017 ajudaria a instituição a parar o atual ciclo de aperto sem que o mercado passasse automaticamente a precificar corte de juros mais à frente.

Os diretores do BC, em público ou em conversas reservadas com a imprensa, vêm tentando eliminar da curva de juros a precificação de cortes na taxa Selic no início de 2016.

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Como o BC ainda enfrenta uma batalha para reconquistar credibilidade, ao dar por encerrado o atual ciclo de aperto monetário - quer seja em 14,25%, 14,50% ou 14,75% -, o mercado já trabalharia com apostas de quando teria início um ciclo de corte de juros.

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E é isso que o BC quer evitar, ou menos jogar para mais tarde em 2016 o início da precificação do corte de juros.

Se anunciar uma redução da meta de inflação para 2017, dificilmente o mercado consideraria que o BC iria cortar juros no início do ano que vem. Ou seja, a pausa após o atual ciclo de aperto seria mais prolongada. E isso ajudaria a derrubar as expectativas inflacionárias, que ainda se mantêm teimosamente acima do que o BC gostaria.

Por esse aspecto, vale a pena o BC reduzir a meta de inflação, pois não conseguirá controlar as expectativas inflacionárias apenas no "gogó", como vem tentando fazer recentemente. Isto é: já que o BC está oficialmente mirando uma inflação menor, vai ficar mais improvável começar a cortar os juros antes do previsto.

E uma meta ajustada para 2016 ao redor de 5%?

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De um lado, seria bem mais realista do BC e não exigiria um custo tão elevado em termos de atividade econômica para trazer a inflação de um patamar de 9% para 4,5%.

De outro, seria uma manobra arriscada, dado o histórico fraco de credibilidade desta gestão do BC.

Quem garantiria que a mediana das projeções para o IPCA em 2016, hoje estacionada em 5,5%, não voltaria a subir assim que o BC relaxasse o seu objetivo oficial?

O risco é o mercado entender uma meta ajustada de inflação como um retorno à leniência do BC.

Agora, é esperar as projeções de inflação no RTI de junho para ter uma noção das intenções do BC.

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Fábio Alves é jornalista do Broadcast

Opinião por Fábio Alves

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