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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|O placar do impeachment

Investidores e analistas vão monitorar minuciosamente o placar das intenções de votos dos 512 deputados quando o processo de impeachment da presidente Dilma for a plenário.

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Atualização:
Foto da Avenida Paulista mostra a via tomada de manifestantes Foto: AFP / MIGUEL SCHINCARIOL

Após as manifestações contra o governo Dilma terem atraído mais de 3 milhões de brasileiros às ruas, a matemática do impeachment na Câmara dos Deputados será um dos principais gatilhos para os preços das ações na Bolsa e a cotação do dólar no curto prazo.

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Investidores e analistas vão monitorar minuciosamente o placar das intenções de votos dos 512 deputados quando o processo de impeachment da presidente Dilma for a plenário.

Quanto mais parlamentares declararem publicamente voto a favor do impeachment, quando antes se mostravam indecisos ou contrários ao impedimento da presidente, mais combustível terão os investidores para comprar Bolsa e vender dólar.

Isso porque, entre as alternativas para a interrupção prematura do segundo mandato de Dilma, o mercado crê no processo de impeachment como mais rápido e também mais provável, em comparação, por exemplo, com a cassação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da chapa da petista na campanha presidencial de 2014.

Para os analistas da consultoria Arko Advice, entre a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os questionamentos feitos pela Câmara sobre o rito do impeachment (previsto para esta quarta-feira) e a votação do plenário da Casa (meados de maio), a estimativa é que o processo demore entre 45 e 60 dias.

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A renúncia é um cenário bem menos provável, mas não impossível, embora a presidente já tenha refutado tal decisão numa atrapalhada entrevista à imprensa na sexta-feira passada.

A outra opção, via mudança do sistema de governo para um parlamentarismo ou um "semipresidencialismo", como vem defendendo o presidente do Senado, Renan Calheiros, tem pela frente obstáculo jurídico e também político, uma vez que o Congresso não é visto atualmente com bons olhos pela população brasileira.

Até recentemente, apesar de um temor crescente de reversão no cenário, ainda havia no governo Dilma a confiança de que a presidente teria mais do que 171 votos a seu favor para barrar o impeachment. Falavam-se, em entrevistas de bastidores à imprensa, em mais de 200 votos de aliados ao governo.

Mas o apoio ao impeachment da presidente pode ter crescido com o sucesso das manifestações deste domingo. E vários partidos da base aliada, em particular o PMDB, estavam aguardando as manifestações para avaliar um desembarque do governo e para, provavelmente, decidir o voto a favor do impeachment.

Assim, nos próximos dias, o mercado vai acompanhar as declarações dos deputados de seis partidos da ainda chamada base aliada: PMDB, PSD, PP, PR, PTB e PRB. No total, esses partidos somam 216 deputados. Uma debandada desse grupo seria fatal para o governo.

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Na sua convenção no sábado, o PMDB não oficializou o abandono do governo, fixando um prazo de 30 dias para tomar tal decisão, mas impediu que o Palácio do Planalto tente interferir nesse processo ao impedir que seus filiados possam assumir cargos no governo até o partido anunciar se deixa ou não a base aliada.

Será importante então ver como o Palácio do Planalto se comportará em relação aos outros cinco partidos acima. Conseguirá cooptá-los oferecendo cargos?

Ou a pressão que veio das ruas ontem falará mais alto para os deputados dos partidos aliados?

Qual o custo e benefício de pular do barco antes ou ficar com o governo?

Nesse cálculo, poderá ter influência o que ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva decida sobre aceitar ou não ser um ministro de Dilma e assim dar uma sobrevida ao governo da petista.

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Se Lula encarar a missão, não se pode descartar um novo fôlego que possa impedir a fuga de vários deputados aliados em direção ao impeachment.

Mas também poderão ser decisivas para o abandono ou não do governo novas denúncias vindas da Lava Jato, com vazamento de delações premiadas, que venham a comprometer ainda mais o ex-presidente ou mesmo o Palácio do Planalto.

Depois das manifestações, o ônus agora está com o governo Dilma em reverter uma dinâmica que lhe é negativa: a adesão de votos fundamentais de deputados para o impeachment.

Nas mesas de operação do mercado financeiro, o placar do impeachment na Câmara é a nova conta que interessa no curto prazo.

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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