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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Que racha? Que crise? Que base?

Alguém acha mesmo que os líderes do PSDB e do DEM foram pegos de surpresa com um acordão que 'rasgou a constituição' e que Temer permaneceu alheio inocentemente ao conchavo?

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Atualização:
Michel Temer toma posse como presidente da República no Senado Foto: Dida Sampaio/Estadão

O noticiário de jornais e de televisão traz análises e informações de que gerou uma crise na base aliada de Michel Temer o acordo entre PMDB e PT para garantir a Dilma Rousseff o direito ao exercício de funções públicas apesar de ter sido removida permanentemente da Presidência.

Que racha? Que crise? Que base?

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Alguém acha mesmo que Temer permaneceu alheio inocentemente ao conchavo que se alinhavou nos últimos dias que antecederam à votação final do impeachment de Dilma no Senado?

Alguém acha mesmo que os líderes do PSDB e do DEM foram pegos de surpresa com um acordão que "rasgou a constituição", como disseram muitos, ao fatiar o desfecho do impeachment?

Alguém acha mesmo que a sempre beligerante Janaina Paschoal, coautora do pedido de impeachment, aquiesceu pacificamente à votação que reduziu a punição de Dilma, abrindo mão de recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF)?

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Depois de esbravejarem diante das câmaras de TV, os senadores Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) negaram deixar a base aliada e recorrer ao STF para reverter o voto em separado para a punição da ex-presidente.

O senador Aécio Neves, derrotado por Dilma nas eleições presidenciais de 2014, apressou-se em dizer que a "questão essencial foi resolvida".

Não à toa que o discurso de Dilma quando foi se defender no Senado na segunda-feira pareceu mais uma tentativa de abrir novos caminhos no futuro, ao tentar resgatar o seu legado, do que um último esforço para evitar o seu afastamento definitivo.

Não há inocentes em Brasília e ninguém foi pego de surpresa no conchavo que fatiou a votação do impeachment.

Os únicos surpresos, além dos eleitores brasileiros, foram os jornalistas. Sim, porque surpreendentemente esse conchavo não vazou para colunas políticas da imprensa, como é de costume. Até porque se isso acontecesse a reação seria muito forte e poderia atrapalhar os interesses dos envolvidos.

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Desta forma, não é possível avaliar o quão infiel seria a base aliada de Temer, traçando cenários para votações de medidas econômicas no Congresso.

Esse "acordão" parece improvável de ter sido feito sem a anuência dos principais atores políticos, incluindo o Palácio do Planalto.

Tanto que, apesar das reclamações públicas, ninguém de peso da base aliada (PSDB, DEM e o próprio PMDB) se dispôs a recorrer ao STF para reverter a decisão do Senado.

O problema é que tal conchavo abriu a caixa de pandora. Sabe-se lá quais serão as repercussões que essa decisão poderão ter para políticos na mira da Justiça, como o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha.

Aliás, fora os jornalistas e os eleitores menos informados, nem o mercado financeiro parece estar se estressando com a tal "crise na base aliada", haja vista a reação dos preços dos ativos brasileiros.

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Fábio Alves é jornalista do Broadcast

Opinião por Fábio Alves

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