EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Recessão pode inibir reajustes de salários acima da inflação

PUBLICIDADE

Foto do author Fábio Alves
Atualização:
Cartazes da greve dos bancários em 2014 ( Foto: Fabio Motta/Estadão)

Começa a partir deste mês a negociação salarial dos sindicatos mais importantes em termos de número de trabalhadores representados, como os metalúrgicos, bancários e comerciários.

Como pano de fundo para os acordos entre trabalhadores e patrões, está a projeção do Banco Central para a inflação em 2015, que é de alta de 9%.

PUBLICIDADE

Será este patamar o ponto de partida dos reajustes salariais?

O ambiente recessivo deste ano poderá tornar muito mais difícil não somente a obtenção de aumentos reais, como também até a variação acumulada da inflação.

Em conversa com esta coluna, o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, disse que o objetivo da rodada de negociações salariais será conseguir um reajuste médio de 2% acima da inflação, mas admitiu que os dissídios dos trabalhadores em 2015 acontecerão num ambiente bem mais difícil do que nos últimos três anos em razão da situação econômica do País.

Publicidade

"Vai ter muita dificuldade: as categorias que não fazem greve há muito tempo devem conseguir o reajuste desejado neste ano, mas só depois de fazer greve", afirmou Torres. "Vai ser muita luta e devem acontecer muitas greves."

Para a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thais Zara, os reajustes salariais de vários sindicatos devem ficar abaixo da inflação neste ano, o que deve ter reflexo, ao menos indiretamente, nos índices de preços e nas expectativas inflacionárias para 2016.

"Neste ano, pela primeira vez, vamos passar a ter uma dificuldade grande não só de haver reajustes reais, como também de aumentos até para recompor a inflação", disse Thaís a esta coluna. "Isso porque a inflação está num patamar muito elevado, o que exigiria correção nominal muito alta."

O economista sênior do Besi Brasil, Flávio Serrano, lembrou que a desaceleração da economia está mais intensa e disseminada em vários setores, com impacto no mercado de trabalho via demissões ou menor ritmo de contratações. População desocupada aumenta e o desemprego sobe.

"O poder de barganha dos trabalhadores diminuiu", disse Serrano a esta coluna.

Publicidade

Ele observou que o nível de inflação está muito alto e, como a maior parte dos sindicatos utiliza como base de negociação o INPC, que reflete mais o custo de vida dos trabalhadores de mais baixa renda, a variação é até maior.

PUBLICIDADE

"Houve uma constelação de aumentos que pesam muito mais no bolso dos trabalhadores de baixa renda, como alimentação e tarifas públicas", disse Serrano. "Qual o poder de barganha agora de os sindicatos conseguirem reajustes de 10% ou 11% num momento em que o empregador já está sofrendo com o aumento de outros custos, como o de energia elétrica?"

Para Serrano, os analistas vão prestar atenção para as projeções de inflação daqui em diante é no que vai acontecer com o rendimento médio real, mais até do que com o desfecho dos dissídios dos trabalhadores.

"Apesar de inflação alta e de já ter tido alguns dissídios, o rendimento médio real vem caindo bastante nos últimos três meses", explicou. "Com o mercado de trabalho mais fraco, o salário de admissão acaba ficando menor do que o de demissão."

Segundo pesquisa divulgada nesta quinta-feira pela Catho e Fipe, o salário médio de admissão dos trabalhadores brasileiros caiu 1,6% em maio em comparação com igual mês de 2014, resultado mais fraco desde 2009.

Publicidade

Tal queda no rendimento médio real terá um papel importante não somente na formação de preços, como também nas expectativas inflacionárias em 2016.

Fábio Alves é jornalista do Broadcast

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.