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Opinião|Risco de Dilma não terminar mandato volta ao radar do investidor

Presidente nunca esteve tão isolada e acuada desde que ganhou a reeleição

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Atualização:

Voltou com força o clamor da oposição pelo impeachment de Dilma Rousseff, a aprovação de seu governo caiu abaixo de dois dígitos pela primeira vez desde que assumiu o poder em janeiro de 2011, as delações premiadas no âmbito da Operação Lava Jato citam o financiamento da sua campanha à reeleição e a economia sofre com forte queda na atividade e inflação em alta.

Nesse ambiente, qual o risco de a presidente deixar o governo antes do fim do seu segundo mandato, em 2018?

( Foto: André Dusek/Estadão)

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"Conseguirá um governo tão débil, sitiado por sérios problemas econômicos e políticos, sobreviver nessas condições por mais três anos e meio? Esta é a questão crucial neste momento. E a resposta a ela é um categórico não", escreveram os analistas da MCM Consultores em relatório enviado a clientes no dia 1º de julho.

Em conversa com esta coluna, o cientista político da consultoria Tendências, Rafael Cortez, diz que cresceu o risco de a presidente não terminar o seu mandato, porém esse ainda não é o cenário básico com que trabalha no momento.

"É um momento bastante delicado para o governo", observa Cortez. A recessão econômica e a crise política resultaram num crescente isolamento da presidente, expresso na queda da popularidade.

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Na mais recente pesquisa CNI/Ibope, a avaliação positiva do governo Dilma caiu para 9%. Já os que consideraram seu governo como ruim ou péssimo passaram de 64% em março para 68% no levantamento divulgado no dia 1º de julho.

"Presidentes com baixa popularidade têm dificuldade não só para angariar apoio para sua agenda de governo, como também para sua estabilidade", afirma Cortez. "Assim, a permanência dela (Dilma) no governo até o final do seu mandato é questionável e a interrupção do seu mandato precisa estar no radar."

Cortez diz não ter ainda um número que possa traduzir a probabilidade de interrupção no mandato de Dilma, uma vez que este não é seu cenário básico.

"O tempo joga contra o governo em 2015, pois a tendência é de manutenção da economia patinando com a instabilidade política", acrescenta. Segundo ele, a fonte da crise política é decorrente das investigações da Lava Jato e as suspeitas de financiamento ilegal da campanha da presidente.

Já a consultoria política Arko Advice trabalha com uma probabilidade de 30% de a presidente Dilma não terminar o seu segundo mandato.

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Segundo o analista sênior da consultoria, Cristiano Noronha, há pela frente alguns eventos que podem elevar a temperatura do ambiente político.

Em nota a clientes, a Arko Advice observa que o Tribunal Superior Eleitoral aceitou incluir no processo do PSDB contra a eleição de Dilma as informações do empresário Ricardo Pessoa, da UTC, sobre doações ao PT.

Segundo Noronha, o próximo dia 14 de julho seria a data em que Ricardo Pessoa irá depor sobre as contas de campanha da presidente, mas para isso o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki precisaria autorizar tal depoimento.

"Esse (depoimento de Pessoa) seria um momento crítico para a presidente", diz Noronha, em conversa com esta coluna.

Noronha também cita outro evento importante: está marcada para agosto uma nova manifestação popular contra o governo, o que pode servir de termômetro para o pedido de impeachment pela oposição.

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Além disso, a análise da prestação de contas do governo pelo Tribunal de Contas da União (TCU) poderá enfraquecer mais ainda a posição de Dilma Rousseff, diz Noronha. Segundo a Arko Advice, é tido como certo que o plenário do TCU recusará a prestação de contas de Dilma relativa ao ano passado, com recomendação à Câmara dos Deputados para rejeitá-la.

"Estamos num momento bastante delicado para Dilma porque existe um debate político forte em torno do impeachment e há três movimentos previstos (depoimento de Ricardo Pessoa, manifestações de ruas e análise das contas do governo pelo TCU) que podem alimentar mais ainda a pressão sobre a presidente", afirma Noronha.

Para navegar esse período turbulento, a presidente tem como desafio manter o apoio ao ajuste fiscal do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e não tomar nenhuma medida que possa radicalizar o ambiente político.

Resta ver quem virá ao apoio da presidente no seu momento mais crítico desde a reeleição.

(Fábio Alves é jornalista do Broadcast, serviço de informações da Agência Estado)

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