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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Risco de impeachment de Dilma entra no radar do mercado financeiro

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O risco de um pedido de impeachment de Dilma Rousseff avançar no Congresso entrou de vez no radar dos investidores depois que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, anunciou oficialmente seu rompimento com o governo.

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A decisão de Cunha acontece como reação ao fato de o noticiário político ter sido dominado pela denúncia de Júlio Camargo, lobista e delator na Operação Lava Jato, de que teria pago US$ 5 milhões a Cunha para assegurar contratos com a Petrobrás.

Em entrevista a jornalistas nesta sexta-feira, Cunha disse, entre outras declarações, que tem comprovação da atuação do governo Dilma em ações contra si, que há um "bando de aloprados" no Palácio do Planalto que vive de criar constrangimentos e que o Planalto tem um ódio pessoal a ele.

Ou seja, agora virou pessoal. O risco disso é o presidente da Câmara dos Deputados esquecer os cálculos políticos nas suas ações para dar vazão a uma sede de vingança.

Se antes os clamores de impeachment da oposição aumentaram o ruído político no mercado, agora as ameaças veladas de Eduardo Cunha injetaram uma dose maior de preocupação sobre o horizonte político e também econômico do País.

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"Os bombeiros vão desembarcar de mala é cuia, mas esse tema do impeachment será considerado nos cenários", diz o economista-chefe de uma instituição financeira, em conversa com esta coluna. "Acho ainda improvável."

Segundo ele, os preços dos ativos, incluindo o dólar, já começaram a precificar tal risco de o pedido de impeachment avançar.

"Mas não se fazem mais estresses como antigamente", observa o economista. "Muito juro, brutal ajuste de balanço de pagamento e normalização (monetária) suave nos Estados Unidos atenuam um overshooting", acrescenta.

Também em conversa com esta coluna, um grande investidor brasileiro diz que o ruído na esfera política agora tem chance significativa de se tornar um evento de ruptura, na medida em que Eduardo Cunha é quem aceita ou não pedidos de impeachment.

Ele disse que tem recebido "crescentemente" perguntas de seus clientes a respeito de impeachment.

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"Estrangeiros estão desconfortáveis, pois não entendem a sutileza da luta política em Brasília", explica o investidor. "Na dúvida, melhor reduzir posições e observar com mais calma ou até existir maior clareza acerca das implicações."

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Para ele, o risco de impeachment ainda tem baixa precificação. "Mas os eventos políticos têm elementos suficientes para, se sustentado ou se envolver ainda mais diretamente o núcleo do Palácio Planalto ou do Instituto Lula, fazer o real testar nos próximos 30 dias, em particular depois da volta do recesso parlamentar, a máxima do ano de R$ 3,3150 por dólar", argumentou.

Em relatório a clientes enviado na noite da quinta-feira, os analistas da consultoria política Arko Advice reiteraram que Cunha é o guarda do portão do processo de impeachment.

"Ele tem o condão de permitir que o processo se inicie. E, a partir do controle que exerce na Câmara, fazê-lo andar celeremente até o plenário", disseram os analistas da Arko.

Segundo eles, no plenário, a situação ainda é favorável à presidente Dilma Rousseff. "Nossa contabilidade aponta a existência de 'apenas' 250 deputados a favor do processo. São necessários 342 votos."

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Para os analistas da consultoria política, a Operação Politeia deixou Eduardo Cunha transtornado. "Imediatamente ameaçou instalar duas CPIs (BNDES e Fundos de Pensão) que são claramente contra os interesses do governo. A instalação de ambas na Câmara é altamente provável. Cunha se considera vítima de armações do governo", escreveram.

Como o governo Dilma irá reagir nas próximas horas será crucial para reduzir ou aumentar o ruído político, com implicações para os preços dos ativos.

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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