A divulgação nesta quinta-feira, 13, dos dados de vendas de varejo para o mês de março deve definir o debate ainda em curso entre analistas se a economia brasileira terá atingido o fundo do poço no primeiro trimestre deste ano ou se o vale recessivo será atingido neste segundo trimestre.
Os indicadores de atividade restantes para fechar o mês de março também ajudarão a afinar as estimativas de carrego para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre. Assim, a divulgação das vendas do comércio varejista em março é ansiosamente aguardada pelo mercado.
Para os economistas do banco Bradesco, liderados por Octavio de Barros, as vendas do comércio varejista de março deverão mostrar retração de 0,2% na margem e alta de 1,8% na comparação interanual, desconsiderando as vendas de veículos e peças e materiais de construção.
Já os analistas da consultoria LCA esperam queda de 0,6% em março em relação ao mês anterior no comércio restrito, "em função do quadro geral de prostração da atividade econômica, com desaceleração do crescimento da massa salarial e queda da confiança do consumidor".
E os economistas do banco Safra, liderados por Carlos Kawall, projetam recuo de 1,6% na margem, em março, nas vendas do varejo no conceito ampliado, o qual inclui automóveis e material de construção.
Assim, estimam os economistas do Safra, as vendas do varejo encerrariam o primeiro trimestre deste ano com queda de 3,5%, "desempenho até pior do que o verificado no auge da crise financeira de 2009". O banco Safra diz que há um risco negativo para a projeção de seus economistas para o PIB no primeiro trimestre deste ano - de queda de 0,4% - "concentrado no componente de serviços, sobretudo em função do fraco desempenho das vendas varejistas."
Já está dado que o desempenho do PIB de janeiro a março deste ano será bastante fraco. O que interessa agora é saber o ponto de partida para a economia entre abril e junho.
Economistas que ainda esperam o fundo do poço da atividade econômica para o segundo trimestre deste ano trabalham com um carrego negativo de 0,3 a 0,4 ponto porcentual do primeiro para o segundo trimestre deste ano.
Por enquanto, indicadores como o fluxo de veículos nas estradas e a produção de papel ondulado não dão margem para otimismo e reforçam a corrente de economistas que esperam o fundo do poço para o segundo trimestre. Isto é, o pior ainda não ficou para trás em termos de contração da atividade.
Em abril, o fluxo de veículos pesados nas rodovias pedagiadas caiu 4,6% em relação a março, descontados os efeitos sazonais, segundo dados da Associação Brasileira das Concessionárias de Rodovias (ABCR). Já a prévia do indicador de vendas de papelão ondulado indicou queda de 1,3% em abril ante março, segundo a Associação Brasileira de Papelão Ondulado (ABPO). Em relação a igual mês de 2014, o recuo foi de 2,2%.
No limite, a taxa de retração do PIB no primeiro trimestre deste ano pode até ser maior do que o recuo da economia entre abril e junho, mas o que importa é que a atividade ainda seguirá em deterioração no segundo trimestre, ou seja, não sendo capaz de reverter a trajetória recessiva observada no início de 2015.
E como se dará a esperada recuperação da economia?
Pode-se dizer que está descartado um desempenho em forma de V, isto é, de uma recuperação vigorosa e rápida da economia. O cenário-base do governo e de boa parte dos analistas é que esse desempenho será em forma de U: uma retomada do crescimento um pouco mais lenta, com a reversão da contração a partir do quarto trimestre deste ano.
O risco é se a economia brasileira entrar numa dinâmica em forma de L: depois de uma contração forte, a atividade se acomode num patamar baixo, sem uma recuperação, por muito mais tempo.
Esse risco não é desprezível hoje, mesmo não sendo o cenário-base da maioria do mercado. Pior: ele pode se tornar crescente, se a confiança de empresários e consumidores não for recuperada.
Para isso, pesará o ambiente político, especialmente em relação à capacidade do governo de conseguir aprovar medidas de seu interesse no Congresso. Assim, o ajuste fiscal será um divisor de águas.
E um termômetro importante será o mercado de trabalho, refletido na taxa de desemprego. Dependerá do mercado de trabalho, por exemplo, a trajetória da inflação e da taxa básica de juros, além do humor de consumidores e empresários.
Fábio Alves é jornalista do Broadcast