PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Economia e políticas públicas

Opinião|A economia entrou forte no debate

Foi surpreendente como o tema da política econômica esteve presente na terça-feira, 26/8, no primeiro debate televisivo entre os candidatos a presidente, na TV Bandeirantes. Há uma percepção de que economia é um tema árido, difícil de compreender pelo grande público, e que expressões como tripé macroeconômico ou responsabilidade fiscal soam quase como se tivessem sido pronunciadas numa língua estrangeira.

Foto do author Fernando Dantas
Atualização:

Apesar disso, falou-se muito de economia. Parte da explicação é que o candidato tucano, Aécio Neves, jogou o foco do seu discurso na crítica à política econômica da presidente Dilma Rousseff, e chegou ao ponto de encerrar a sua participação citando explicitamente que o ex-presidente do Banco Central (BC), Armínio Fraga, seria o seu ministro da Fazenda.

PUBLICIDADE

É indiscutível a qualidade de Armínio como homem público, mas é intrigante que os estrategistas da campanha tucana tenham considerado que essa menção pudesse empolgar o público que assistia ao debate - afinal, o ex-presidente do BC não é exatamente um ídolo popular, já que seu grande prestígio faz-se sentir muito mais junto à elite financeira e intelectual do País. Talvez o cálculo tenha sido que só os extratos superiores de renda e educação estariam assistindo ao debate, transmitido num horário tardio (a partir das 22 horas) para um dia de semana.

Outro fator que estimulou o debate da política econômica foram as críticas de candidatos "nanicos" - como Luciana Genro, do PSol, Eduardo Jorge, do PV, e Levy Fidelix, do PRTB - ao bê-a-bá da gestão monetária no mundo de hoje, onde bancos centrais, autônomos ou não, dedicam-se à tarefa de controlar a inflação. A visão dos três, porém, parece ser a de que bancos centrais são agentes do setor financeiro privado infiltrados na política pública, cuja meta é maximizar os juros para maximizar os lucros bancários. É preocupante que esta visão regressista esteja tão disseminada entre os candidatos à presidência, ainda que predomine entre aqueles que não têm chances eleitorais.

De qualquer forma, a questão da política econômica foi suficientemente levantada para que tomasse forma, para o eleitor, o que seria a abordagem dos diferentes candidatos competitivos. Assim, Aécio surgiu claramente como o defensor de um ideário liberal e ortodoxo, com ênfase na responsabilidade fiscal e no controle da inflação, e um elogio retrospectivo às privatizações da era FHC. É interessante notar que essa clareza na plataforma tucana é inédita desde que o próprio Fernando Henrique deixou o poder.

Marina Silva, por sua vez, também não tergiversou muito na hora de se distanciar da heterodoxia e do desenvolvimentismo tais como praticados no mandato da presidente Dilma Rousseff. Ela explicitamente criticou posturas da esquerda em temas econômicos que considera antiquadas. Quando pressionada por Luciana Genro sobre a proximidade de sua visão com a dos tucanos, Marina não caiu na defensiva e reafirmou as mesmas ideias.

Publicidade

Dilma Rousseff, finalmente, manteve a linha recente de comunicação sobre economia do seu governo. A presidente não defende de forma explícita o experimento heterodoxo da "nova matriz econômica" tentado até 2012, mas rebate as críticas com baterias de números positivos (escolhidos a dedo) e o eterno ataque aos tempos de Fernando Henrique, quando quase todos os indicadores eram de fato piores (pela natural evolução do País, segundo a defesa dos tucanos).

Se o segundo turno acontecer, como hoje parece ser mais provável, entre Dilma e Marina, será muito interessante acompanhar a estratégia da presidente em termos de discurso econômico. Uma alternativa é caminhar para o centro, para tentar abocanhar uma parcela, ainda que pequena, dos eleitores de Aécio. A outra será a de reforçar um discurso à esquerda, para tentar identificar Marina com os tucanos, e assim tentar arrancar da candidata do PSB eleitores muito avessos à ideia de votar na direita.

Fernando Dantas é jornalista da Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pela AE-News/Broadcast no dia 26/8/14, terça-feira.

Opinião por Fernando Dantas
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.