PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Economia e políticas públicas

Opinião|Dilma se complica na escolha para Fazenda

O governo recém reeleito da presidente Dilma Rousseff começa a dar sinais de não estar operando com grande destreza o seu primeiro grande desafio de política econômica: o de definir o nome do substituto do atual ministro da Fazenda, Guido Mantega, e simultaneamente apresentar um plano de voo para o difícil período que parece estar chegando.

Foto do author Fernando Dantas
Atualização:

Evidentemente, a presidente não tem culpa se rumores e informação em "off" ganham os jornais e dominam as conversas de mercado enquanto ela não comunica a sua decisão. Por outro lado, líderes políticos têm que lidar com a realidade como ela é, e é evidente que, num ambiente de elevada tensão política e econômica como o atual, o vácuo criado pela demora em se conhecer uma decisão importantíssima vai alimentar especulações e boatos frenéticos. Além disso, como fica claro na sucessão de reportagens sobre o tema, muitas das versões e contra versões sobre os atuais bastidores da escolha do novo ministro da Fazenda partem de fontes do governo ou a ele ligadas - quase todos os relatos falam, por exemplo, sobre as sugestões do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

PUBLICIDADE

O problema desse frenesi antecipatório é que ele não vai ajudar em nada os candidatos que hoje vêm sendo mencionados, caso um deles efetivamente venha a assumir o posto. Como são bons nomes, talvez os melhores nomes dada a conjuntura político-econômica muito específica que o Brasil atravessa, é lamentável que sofram desgaste.

Recentemente, três nomes estiveram no centro da espiral de especulações: Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco; Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central (BC) e Nelson Barbosa, ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda. Trabuco, segundo reportagem do jornal Valor Econômico, já teria declinado - a se confirmar a informação, permanecem como alternativas Meirelles e Barbosa.

É evidente que Dilma pode surpreender com um outro nome, mas, como já mencionado, Meirelles e Barbosa seriam de fato escolhas muito felizes para o momento atual. No mínimo, é interessante preservá-los como alternativas possíveis, mesmo que a escolha imediata não recaia em nenhum dos dois. Entretanto, a forma como o tema está sendo tratado não é vantajosa nem para um nem para o outro - caso voltem à vida pública a curto ou médio prazo.

Meirelles é visto como o nome de preferência de Lula, mas com problemas de convivência com Dilma. Além disso, por ser um típico exemplar de executivo das altas finanças (já presidiu o Bank Boston internacional), ele se choca com a retórica antibanqueiro da campanha da presidente reeleita.

Publicidade

Quanto a esse segundo problema, não há muito o que fazer, já que decorre das escolhas estratégicas do PT na disputa pelo poder. Mas o destaque que vem sendo dado aos problemas passados de convivência entre Meirelles e Dilma e às divergências ideológicas entre os dois imediatamente colocaria ambos numa situação muito delicada, caso o ex-presidente do BC viesse a ser o escolhido. Os menores ruídos em relação a possíveis discordâncias de presidente e ministro seriam mostrados como exemplos do grande choque de personalidades politicamente incompatíveis. A capacidade de Meirelles de emplacar sua agenda seria vista como sinal de fraqueza de Dilma.

É possível alegar que, mesmo que Meirelles fosse nomeado rapidamente, as suas rusgas passadas com Dilma viriam à tona. O problema do processo atual, porém, é sublinhar a forte relutância da presidente Dilma, com as muitas notícias de que ela estaria resistindo à indicação de Lula - não é definitivamente um bom clima se o ex-presidente do BC viesse a assumir o comando da economia.

Já Barbosa perde com o foco dado à alternativa de Meirelles. O ex-presidente do BC é o nome dos sonhos do mercado, com a sua visão inapelavelmente ortodoxa sobre os dilemas econômico do País e sua comprovada capacidade de liderança e de formação de equipes. Em contraste, o apelo de Barbosa está mais no fato de ser um economista moderado e particularmente capaz dentro do universo heterodoxo, com a vantagem de ser muito mais assimilável pelas bases petistas e pela própria presidente do que Meirelles. O problema, porém, é que a manutenção de Meirelles como alternativa pode fazer com que a escolha de Barbosa - que seria vista como um passo na direção certa pelo mercado, em condições normais de temperatura e pressão - acabe tendo um gosto de decepção para os investidores.

Da mesma forma, como Meirelles e Barbosa são muito bem talhados - por motivos bem diferentes - para a situação atual, a escolha de um terceiro nome já se faz contra um pano de fundo comparativo bastante elevado, o que também não ajudará o novo ministro na sua difícil missão. É certo, portanto, que este período de espera repleto de rumores e informações anônimas não está fazendo bem para ninguém.

Fernando Dantas é jornalista da Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Publicidade

Esta coluna foi publicada pela AE-News/Broadcast em 3/11/14, segunda-feira.

Opinião por Fernando Dantas
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.