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Economia e políticas públicas

Opinião|E o emprego em 2018?

Análise de Bruno Ottoni, do Ibre/FGV sobre “taxa de subutilização da força de trabalho” confirma que retomada do mercado de trabalho é bastante gradual.

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Atualização:

Uma das indagações cruciais sobre 2018 é como se comportará o mercado de trabalho. Nem é preciso dizer que a evolução da renda e do emprego ditará em grande parte o humor da população, e a consequente inclinação a votar em candidatos que deem seguimento à atual política econômica.

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Apesar da recuperação da economia e das projeções para o PIB em 2018 que já estão na casa de 2,5% a 3%, as previsões de muitos analistas ainda apontam desemprego de dois dígitos no final do próximo ano. No Ibre/FGV, por exemplo, projeta-se taxa de desemprego da Pnad Contínua de 11,5% em dezembro de 2018 (isto é, o trimestre até esse mês), uma melhora relativamente pequena em relação à previsão de 12,1% em dezembro de 2017.

O economista Bruno Ottoni, principal responsável pela análise de mercado de trabalho no Ibre, chama a atenção para a evolução recente da chamada "taxa de subutilização da força de trabalho", que sinaliza como é gradual e não muito retumbante a recuperação do emprego.

A taxa de subutilização tem, no numerador, os desocupados e mais dois grupos: os subocupados e a "força de trabalho potencial". No denominador, está a população economicamente ativa (PEA, soma dos ocupados e desocupados) acrescida da força de trabalho potencial.

Os subocupados são aqueles que, no questionário do IBGE, respondem que não estão satisfeitos com o número de horas que estão trabalhando. Embora essa informação não esteja ligada diretamente à qualidade do trabalho, normalmente os subocupados concentram-se em ocupações de menor qualidade. Do ponto de vista do cálculo normal da taxa de desemprego, os subocupados fazem parte da população ocupada (PO) e da PEA.

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Já a "força de trabalho potencial" não está na PO nem na PEA. Ottoni explica que a classificação inclui tanto quem não está trabalhando, não procurou emprego, mas estava disponível (o questionário do IBGE indaga tudo isso em relação ao período de referência), isto é, os chamados "desalentados"; como também quem não está trabalhando, procurou emprego, mas não estava disponível.

O pesquisador nota que a força de trabalho potencial está "próxima" da PEA, e da classificação de desemprego. Das três características a serem aferidas para caracterizar a desocupação - não estar trabalhando, procurar emprego, e estar disponível para trabalhar -, os participantes da força de trabalho potencial possuem sempre pelos menos duas.

O que os dados mostram é que o desemprego chegou a um pico no primeiro trimestre de 2017, e depois começou a cair. Mas a taxa de subutilização da força de trabalho manteve-se bem mais estável, recuando muito ligeiramente de 24,1% para 23,9% entre o primeiro e o terceiro trimestres de 2017.

A razão é que, enquanto a taxa de desocupados caiu dentro da taxa de subutilização, a taxa de desocupação e a taxa da força de trabalho potencial subiram.

A taxa de desocupados dentro da taxa de subutilização é um pouco menor do que a taxa de desemprego da Pnad, porque, como já mencionado, o denominador é maior: PEA mais força de trabalho potencial.

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Assim, entre o primeiro e o terceiro trimestre de 2017, considerando os componentes da taxa de subutilização, a taxa de desocupados caiu de 12,9% para 11,6%, mas a taxa de subocupação subiu de 4,8% para 5,6%, e a taxa da força de trabalho potencial aumentou de 6,4% para 6,7%.

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Esses números, para Ottoni, indicam que a recuperação do mercado de trabalho não está vigorosa o suficiente para absorver toda a oferta potencial de trabalho da economia. O aumento dos subocupados, que gostariam de trabalhar mais, é um sinal.

O outro sinal é o aumento da força de trabalho potencial, que não está na PEA, mas próxima dela. No caso dos desalentados, possivelmente à espera de um mercado mais aquecido. São pessoas que podem entrar na PEA a qualquer momento como desempregados (também podem entrar como empregados, claro, mas provavelmente seriam casos mais raros), neutralizando em parte o efeito redutor do desemprego gerado pelo crescimento da PO.

Ottoni ressalta que o conjunto de indicadores econômicos aponta recuperação da atividade em 2018, o que deve dar mais gás ao mercado de trabalho, inclusive à criação de empregos formais. No entanto, a evolução recente da taxa de subutilização da força de trabalho é um alerta de que a recuperação do mercado de trabalho deve ser efetivamente bastante gradual. (fernando.dantas@estadao.com)

Fernando Dantas é colunista do Broadcast, e voltará a escrever suas colunas diárias no Broadcast no dia 2/1/18, terça-feira.

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Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 22/12/17, sexta-feira

Opinião por Fernando Dantas
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