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Economia e políticas públicas

Opinião|E o PIB em 2018?

Resultado do PIB do terceiro trimestre de 2017 e revisões nos resultados dos trimestres anteriores indicam que a economia pode crescer em torno de 1% este ano. Em 2018, o consenso dos analistas aponta em expansão maior, com continuidade da recuperação. O que pode atrapalhar, no entanto, é a incerteza associada a eleição presidencial.

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Atualização:

As projeções do PIB de 2017, que estão hoje em 0,73% na mediana do Focus do BC, devem subir para algo em torno de 1%, ou ligeiramente mais, em função das revisões anunciadas hoje pelo IBGE no PIB do primeiro e segundo trimestres deste ano - que foram de, respectivamente, 1% para 1,3% e de 0,2% para 0,7%, na comparação com os trimestres anteriores na série dessazonalizada.

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Como explica o economista e consultor Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC, em relatório circulado hoje após a divulgação do PIB do terceiro trimestre e das revisões relativas a 2016 e 2017, os novos números, combinados com o desempenho no terceiro trimestre, fizeram com que o carregamento estatístico de 2017 subisse de 0,5% (no segundo trimestre) para quase 1%. É um valor que já está acima da projeção média do Focus para o ano.

Fernando Rocha, sócio e economista-chefe da gestora JGP, explica que, mesmo com as instituições mantendo suas projeções de crescimento no quarto trimestre (a sua é de 0,2%), o resultado final será maior, e deve convergir para 1%.

Mas e 2018? Neste caso, acrescenta Rocha, o padrão de mudança (pelas revisões) dos crescimentos trimestrais em 2017 não deve alterar relevantemente o carregamento estatístico para o próximo ano, que é baixo, em torno de 0,2%.

Em outras palavras, a expansão do PIB projetada pelo mercado para o ano eleitoral, hoje com mediana de 2,58% (o número de Rocha é 3%), é "crescimento mesmo", e não efeito estatístico.

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A visão consensual é de que esse crescimento "de verdade" vai acontecer em 2018, porque a economia prossegue na sua trajetória de retomada lenta e gradual, o que foi confirmado hoje pelos dados desagregados do PIB e tem sido referendado também pelos indicadores de produção e mercado de trabalho.

Por outro lado, Rocha alerta que, se houver decepção no primeiro trimestre de 2018, haverá revisões para baixo das projeções de crescimento do PIB no próximo ano.

Mas o que poderia dar errado?

Na visão do economista, a retomada até agora, puxada bem mais pelo consumo e serviços do que pelos investimentos e indústria, é bastante suscetível ao fator incerteza num ano eleitoral em que não se sabe se vão se consolidar como favoritos candidatos com discurso de continuidade da política econômica reformista ou populistas que rechaçam a necessidade de reformar a Previdência e prosseguir no ajuste fiscal.

Rocha se diz impressionado com a correlação entre a piora do Índice de Incerteza da Economia-Brasil (IIE-Br), calculado pelo Ibre/FGV, e a queda surpreendentemente alta do PIB durante essa última recessão, especialmente em 2015. Outros fatores, como o ciclo de crédito, ajudam a explicar parcialmente o tamanho do tombo, mas fica faltando um pedaço considerável. E, quando Rocha insere a trajetória do IIE-Br em seus modelos, essa lacuna é em grande parte preenchida.

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Dessa forma, o analista chama a atenção para o poder da incerteza de inibir o crescimento no ano que vem, o que para ele atinge não só o investimento, mas também o consumo. No momento, o IIE-Br ainda está num nível relativamente alto para o padrão histórico (a série foi reconstruída retrospectivamente até 2000), mas já caiu bastante em relação aos picos recentes.

A grande dúvida é o que acontecerá com a incerteza se a reforma da Previdência for definitivamente jogada para o futuro, com a situação fiscal e de solvência ainda dramaticamente deteriorada e com a possibilidade de candidatos populistas consolidarem a liderança das intenções de votos, com discursos contrários ao ajuste da economia. A retomada do crescimento num ritmo menos medíocre a partir de 2018 pode não ser tão favas contadas como creem os mais otimistas. (fernando.dantas@estadao.com)

Fernando Dantas é colunista do Broadcast

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 1/12/17, sexta-feira.

Opinião por Fernando Dantas
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