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Economia e políticas públicas

Opinião|Incerteza freia investimento

O investimento ainda está devagar na retomada da economia brasileira. O IIE-Br, índice calculado pelo Ibre/FGV, ajuda a explicar por quê.

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Atualização:

Os juros estão baixos, a economia brasileira saiu da recessão e está voltando a crescer. Em momentos desse tipo, no passado, o investimento, que caiu cerca de 30% nessa recessão, um recuo espantoso, costumava voltar de forma relativamente rápida.

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Mas isso não está acontecendo agora. No segundo trimestre deste ano, o investimento recuou 0,7% contra o primeiro trimestre, na série com ajuste sazonal; veio 6,5% abaixo do que se registrou no segundo trimestre de 2016; e acumulou queda de 6,1% em quatro trimestres.

Uma possível explicação para a demora na volta do investimento é o elevado grau de incerteza, especialmente a derivada da imprevisibilidade da eleição de 2018 - e, portanto, a falta de parâmetros para se saber se os graves problemas fiscais e econômicos do Brasil continuarão sendo combatidos pelo governo, ou se uma nova onda de populismo pode romper a frágil estabilidade macro obtida desde meados de 2016.

Dessa forma, os índices de incerteza, como o Índice de Incerteza da Economia-Brasil (IIE-Br), do Ibre/FGV, estão entrando no foco do governo e do mercado. O IIE-Br vem chamando a atenção dos analistas porque a sua utilização em modelos econométricos ajuda bastante a explicar o mergulho surpreendentemente forte do PIB na recente recessão - o índice registrou altas muito intensas justamente em 2015 e 2016.

O IIE-Br registrou 112,8 pontos em novembro, o que já é um recuo substancial em relação ao pico recente de 142,53 em junho, na esteira dos escândalos das fitas de Joesley Batista em maio, que atingiu em cheio o governo de Michel Temer e afetou negativamente, em decorrência, as perspectivas eleitorais do PSDB, aliado do governo e principal representante da continuidade da atual política econômica.

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Como o escândalo também atingiu mortalmente a versão inicial e mais dura da reforma da Previdência proposta por Temer, ampliou também a incerteza fiscal, com impactos que se retroalimentam entre a economia e a política.

O economista Pedro Guilherme Ferreira, que chefia o Núcleo de Métodos Estatísticos e Computacionais do Ibre, e é o principal responsável pelos índices de incerteza, observa que, apesar do recuo desde junho, o IIE-Br em torno de 111 pontos ainda está num nível elevado para o padrão histórico desde 2000, o que pode explicar as dificuldades na retomada do investimento.

Ferreira explica que, no momento, ele e sua equipe vem fazendo um esforço para construir uma boa série do investimento privado no Brasil, já que o investimento público é mais influenciado por razões políticas e menos pela expectativa de retorno - e, portanto, está menos ligado à incerteza.

Em um exercício econométrico recente, em que utilizou uma estimativa para uma série de investimentos privados trimestral no Brasil, que não existe, Ferreira e seus colaboradores analisaram o período de janeiro de 2003 a julho de 2017, encontrando que a incerteza elevada derruba o investimento privado de forma significativa até três meses à frente.

Dessa forma, medidas de incerteza tem se tornado crescentemente relevantes para modelos econométricos como insumo para projetar os investimentos. A economia brasileira superou a grande recessão de 2014 a 2016, os principais indicadores econômicos, financeiros e de crédito voltaram a níveis saudáveis, mas falta a capacidade de equacionar riscos, que é fundamental para o investimento.

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A questão não é eliminar o risco, mas conseguir enxergá-lo e entendê-lo. Quando se está diante de uma eleição tão imprevisível quanto a de 2018, cujo resultado pode significar a continuidade da arrumação da casa ou sua demolição, é natural que os empreendedores adiem seus planos até a poeira baixar. (fernando.dantas@estadao.com)

Fernando Dantas é colunista do Broadcast

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 28/11/17, terça-feira.

Opinião por Fernando Dantas
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