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Economia e políticas públicas

Opinião|Populismo de direita e de esquerda

Economista Dani Rodrik analisa em paper acadêmico as razões pelas quais o populismo se bifurca entre polos políticos opostos.

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Atualização:

Em paper recém-lançado, o respeitado economista Dani Rodrik, de Harvard, busca mostrar como as diferentes formas com que a globalização atinge diferentes países explica por que a reação em alguns deles vem na forma de populismo de direita, e em outros de populismo de esquerda.

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Rodrik nota que muitos estudos ligam o avanço do populismo à globalização, mas menos atenção é dada à questão dos diferentes tipos de populismo que são gerados neste processo. Assim, se a demanda por populismo vem dos impactos da globalização, a "oferta" deriva do tipo de discurso com que os movimentos populistas conseguem a adesão das massas.

A definição de populismo de Rodrik abarca desde o chavismo até a eleição de Trump e o Brexit, mas ele faz distinção entre o primeiro, de esquerda, e os dois recentes episódios, de direita. Em comum, os populismos têm a hostilidade contra as elites cosmopolitas que prosperam com a globalização.

Na sua visão, em países em que as forças globalizantes manifestam-se mais na forma do recebimento de fluxos de imigração e de refugiados, o populismo tende a se organizar em torno de clivagens étnicas e culturais, pendendo para a direita. Já quando a globalização se manifesta mais em termos de comércio e fluxos financeiros e de financiamento internacionais, o populismo pende para polaridades em torno de renda e de classes sociais.

O primeiro caso seria típico dos países avançados da Europa, enquanto o segundo seria exemplificado pela América latina e a periferia do Sul da Europa. Os Estados Unidos reuniriam os dois tipos de populismo, na forma de Trump, pela direita, e Bernie Sanders - o pré-candidato democrata derrotado por Hillary Clinton - na esquerda.

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No paper, Rodrik revisita a teoria econômica mostrando que o comércio internacional de forma geral produz perdedores, e que essa característica está necessariamente vinculada aos ganhos que ele também traz. Segundo o economista, a teoria econômica mostra ainda que os efeitos redistributivos (que geram perdas para alguns grupos) tendem a crescer e neutralizar os ganhos líquidos do comércio internacional à medida que as barreiras diminuem. A fatia dos ganhadores no processo redistributivo também aumenta, mas isto só compõe o quadro em que a globalização se torna mais sensível politicamente à medida que chega a estágios mais avançados.

Em termos empíricos, ele cita estudo que mostra que o impacto geral do Nafta sobre os trabalhadores americanos foi pequeno, mas uma importante minoria, com facetas tanto geográficas quanto setoriais, sofreu substanciais perdas de renda. Outros trabalhos apontam resultados semelhantes em consequência da expansão do comércio sino-americano depois da entrada da China na OMC.

Já na Europa, a rede social bem mais robusta permite uma redistribuição melhor dos ganhos do comércio internacional e leva a um populismo mais centrado na questão da imigração. Mas Rodrik explica que há problemas tanto de eficiência quanto de economia política que tornam difícil a implementação de medidas compensatórias aos perdedores do comércio internacional nos Estados Unidos. Adicionalmente, na sua interpretação, o enfraquecimento dos sindicatos reduz a capacidade de os perdedores obterem compensações.

Em outra parte do paper, o economista de Harvard cita estudos que revelam que as pessoas se preocupam mais com justiça do que com desigualdade. Assim, empregos perdidos em função da competição de países com padrões trabalhistas inferiores doem mais do que aqueles perdidos em função da competição doméstica. Embora a automação e os avanços tecnológicos também criem desigualdade, a hostilidade populista se dirige muito mais à globalização.

No tema bem mais polêmico da globalização financeira, Rodrik tem menos trabalho em demonstrar os diversos senões da liberalização excessiva - já reconhecidos por muitos economistas que defendem a abertura comercial -, como a exposição dos países a crises ligadas às fortes oscilações dos fluxos de financiamento internacional. (fernando.dantas@estadao.com)

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Fernando Dantas é colunista do Broadcast

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 14/6/17, quarta-feira.

Opinião por Fernando Dantas
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