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Economia e políticas públicas

Opinião|Por que o mercado está tranquilo com Dilma?

Piora antes da eleição já incorporou boa parte do pessimismo no preço de ações e outros ativos financeiros. E vários dos nomes que circulam para o Ministério da Fazenda são do agrado do mercado.

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Atualização:

O bom desempenho do mercado nessa terça-feira (28/10/14) é visto por analistas como uma combinação do fato de que grande parte do pessimismo em relação à vitória de Dilma Rousseff já tinha sido incorporado nos preços na reta final da eleição - quando subiu bastante a probabilidade de reeleição - com a boa receptividade a nomes que vêm sendo cogitados como futuros ministros da Fazenda. Dos rumores mais recentes constam Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central (BC), e Nelson Barbosa, ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda.

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Bráulio Borges, economista-chefe da LCA, menciona recente estudo da consultoria que trabalha com três cenários em torno de três grandes conjuntos de projeções para o câmbio. No primeiro, considera-se um cenário compatível com o atual rating soberano do Brasil na S&P, de BBB-, um degrau acima do mínimo para ter grau de investimento (BB+). Na segunda, a suposição é que os mercados veem uma probabilidade de 50% de que o Brasil venha a perder o grau de investimento. E, na terceira, trabalha-se com chances de 100% para a mesma hipótese. O exercício inclui a comparação do Brasil com países com o mesmo rating na S&P, como Índia, África do Sul e Uruguai, ou um degrau abaixo, como Indonésia e Turquia.

"Pela ótica desse nosso exercício, antes mesmo da queda da segunda-feira (27/10) os mercados já estavam precificando uma chance de 50% a 60% de rebaixamento do rating do Brasil", diz Borges. Isso explica, na sua visão, porque ontem, mesmo com queda da bolsa e alta do dólar, a reação do mercado ficou longe dos piores temores pré-eleitorais.

Hoje, segundo o economista, está pesando favoravelmente - explicando a alta do mercado - a circulação de nomes como Trabuco, Meirelles e Barbosa para a Fazenda.

"É uma sinalização de uma equipe mais ortodoxa e mais autônoma em relação à presidente Dilma", ele diz.

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A duração da calmaria, porém, depende dos próximos passos, na visão de Borges. "Se o Aécio vencesse, ele teria o bônus da credibilidade e a lua-de-mel duraria bastante, mas com Dilma é mais na base de 'ver para crer'", analisa.

Ele considera que a política fiscal é central, e o mercado estará atento à meta fiscal de 2015. Segundo Borges "teria que ser um superávit primário (do setor público consolidado) entre 2% e 2,5% do PIB para dar sustentabilidade à trajetória da dívida, mas o mercado estará atento à qualidade desse superávit, e espera que seja com uma participação bem menor de receitas atípicas do que foi no ano passado",

Um gestor com passagem pelo governo vê um conjunto de razões para o comportamento relativamente bom do mercado após a reeleição de Dilma. Ele acha que a grande incerteza dos resultados durante a campanha, com idade e vindas, levou muitos fundos a baixarem o nível de risco. "Assim, diminui o espaço de overshooting tanto para um lado quanto para o outro", explica.

Adicionalmente, o mercado preparou-se para a vitória de Dilma na semana passada, a partir do momento em que as pesquisas passaram a indicar que ela teria boas chances de ganhar. Segundo essa fonte, os estrangeiros até tomaram mais risco em ativos brasileiros: "Os estrangeiros têm uma visão mais pragmática que os locais, operam em diversos países, e são atraídos pelos juros comparativamente altos do Brasil - eles foram a contraparte para quem reduziu o risco recentemente", diz.

O gestor observa também que, com muitas instituições preparando-se simultaneamente "para o pior" com a vitória da Dilma, acabou ocorrendo a reversão típica ilustrada pela conhecida frase 'compre o boato e venda o fato'.

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Adicionalmente, o discurso e as entrevistas em tom de conciliação da Dilma depois da vitória contribuíram para desanuviar nervos no mercado. Finalmente, vieram os nomes de agrado de investidores e participantes do mercado financeiro. Essa fonte considera que Trabuco e Meirelles são nomes vistos como muito positivos pelo mercado, com Barbosa num plano intermediário.

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Mas nem todos estão tão bem impressionados pelos passos iniciais de Dilma depois de reeleita. José Márcio Camargo, economista-chefe da gestora Opus, no Rio, considera que o comportamento do mercado pós-eleição "está ao sabor da especulação, já que até agora não há nenhum sinal concreto do que vai ser o novo governo". Ele acrescenta que "se amanhã surgir um boato de que o ministro da Fazenda vai ser o Arno (Augustin, atual secretário de Tesouro, e mal visto pelo mercado), mesmo que não seja verdadeiro, as coisas ficarão ruins de novo - qualquer especulação vai fazer praça até que haja definições de verdade".

Fernando Dantas é jornalista da Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pela AE-News/Broadcast em 29/10/14, terça-feira.

Opinião por Fernando Dantas
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