Federal Reserve decide não fazer marola

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Por José Paulo Kupfer
Atualização:

Duas são as interpretações iniciais possíveis para a decisão de manter inalterada, por decisão unânime, em 0,5% e 0,75% ao ano, a taxa de referência na economia americana, na reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), nesta tarde quarta-feira. Detalhe: elas não são excludentes.

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A primeira é que os dirigentes do Federal Reserve piscaram ante os tumultuados primeiros passos de Donald Trump na Presidência dos Estados Unidos e decidiram evitar mais marolas, que uma alta dos juros neste momento ajudaria a promover. A segunda é que talvez eles ainda não tenham se convencido de que Trump vai realmente adotar -- ou pelo menos conseguir adotar -- a prometida e potencialmente inflacionária combinação de protecionismo comercial com expansão fiscal.

É verdade que a decisão de não mexer nos juros se apóia no ritmo incerto em que a economia americana evolui no momento, ora avançando devagar, ora estagnando de novo. O crescimento em 2016, de 1,6%, ficou abaixo das projeções e significou perda de ritmo diante do avanço de 2,6%, em 2015. Mas a repetição das explicações dadas em dezembro para então elevar a taxa e agora mantê-la inalterada, sem qualquer menção à política anunciada pelo novo presidente, permite imaginar que Fed ainda pretende pagar para ver as fichas que Trump vai lançar no tabuleiro econômico.

Há poucas dúvidas de que o Fed terá de agir na direção de elevar os juros ao longo de 2017. Embora a economia continue claudicando, a taxa de desemprego chegou a um ponto historicamente baixo e as expectativas de alta nos salários, em razão justamente da forte absorção de mão de obra, já estão bem delineadas. Com isso, foram reforçadas as projeções de que a inflação, ainda que gradualmente, caminha para ultrapassar a meta de 2%.

Antes de Trump, o Fed já tinha indicado que deveria definir três altas nas taxas de juros de referência em 2017. Continua oferecendo a mesma orientação, mesmo depois da chegada doe Trump ao comando da Casa Branca. Mas achou espaço conveniente, com base sobretudo na falta de firmeza da expansão da atividade econômica, para adiar um próximo lance capaz de alimentar conflitos com Trump.

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Vale lembrar que juros e taxa de câmbio, em regimes de câmbio flutuante, funcionam como vasos comunicantes e em direções opostas. Juros mais altos, de acordo com a regra, tendem a operar para valorizar a moeda. O que vai contra políticas protecionistas, que dependem de taxa de câmbio desvalorizada para desestimular importações e incentivar exportações.

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