Prudência no corte dos juros prepara terreno para avanço mais rápido

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Por José Paulo Kupfer
Atualização:

Ao dar início, na reunião desta quarta-feira, a um ciclo, que se prevê longo e acentuado, de cortes nas taxas básicas de juros, com uma redução de 0,25 ponto porcentual, o Comitê de Política Monetária (Copom), mostrou preferência pela cautela. A decisão de trazer a taxa para 14% ao ano, depois de 15 meses com juros básicos estacionados em 14,25% e mais de quatro anos do último corte na taxa Selic -- e não já avançar para 13,75%, com uma poda mais agressiva de 0,5 ponto, como sugeriam muitos analistas --, foi unânime.

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Mas isso não significa que, daqui para frente, a velocidade de redução da taxa básica não se acelere. A leitura do comunicado emitido no encerramento do encontro dá indicações de que o Copom está preparando o terreno para depois avançar mais rápido. A perspectiva de que a economia demore mais do que o antes esperado para sair do fundo do poço e iniciar uma retomada do nível de atividades, detectada a partir dos resultados da produção e das vendas em agosto, juntamente com a melhor definição da trajetória de outros fatores, abre espaço para cortes mais fortes nas próximas reuniões do Copom.

Esses fatores, que ainda levaram os diretores do Banco Central a segurar um corte mais agressivo já em outubro, mostram tendência positiva em horizonte mais longo. Um deles é a própria inflação. Não há obstáculo à vista capaz de impedir a marcha do IPCA rumo ao centro da meta. Só que o ritmo pode ser mais lento, alongando o prazo de convergência, em razão de alguma resistência ou repique temporário nos preços de alimentos e, principalmente, no setor de serviços.

Outro fator considerado decisivo pelo Copom é o desenrolar do processo de  ajuste fiscal. Em curso, a partir com a tramitação da PEC do teto dos gastos públicos, já aprovada, em primeira votação na Câmara dos Deputados, sem grandes alterações em relação à proposta original do governo, esse processo pode ser atrapalhado -- e sofrer atrasos -- por dificuldades nas negociações das reformas e por eventos políticos inesperados.

Há ainda -- e como sempre -- a necessidade de considerar os fatores externos. Embora os diretores do BC considerem o quadro externo ainda benigno para os países emergentes, como o Brasil, persistem as incertezas em relação ao crescimento das economias maduras e, principalmente, no que diz respeito à decisão do Federal Reserve em aumentar os juros de referência nos Estados Unidos antes do fim do ano.

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Nesse sentido, um ciclo consistente de queda das taxas básicas contribuiria não só para aliviar o quadro de endividamento em que se encontram empresas e famílias, introduzindo um fator de distensão na economia, mas também para aliviar a política cambial e evitar sua propagação negativa no lado fiscal. Em regimes de câmbio flutuante, mesmo naqueles em que as autoridades interferem, opera uma relação inversa entre taxa de juros e taxa de câmbio -- quando a primeira cede, a outra tende a desvalorizar e vice-versa.

Assim, seria possível manter o real relativamente desvalorizado, ajudando a impulsionar a balança comercial e o crescimento da economia, sem a necessidade de acumular volumes exagerados de swaps cambiais, que pressionam a dívida pública bruta.

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