Um drible na confiança

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Por José Paulo Kupfer
Atualização:

Dados do IBGE divulgados nesta terça feira mostram um avanço de 0,5%, na produção industrial entre agosto e setembro. Esse progresso, contudo, ficou longe de compensar a quesa de mais de 3,5% verificada em agosto. No fechamento do terceiro trimestre, o volume produzido pela indústria ainda é 5,5% menor do que foi despachado das fábricas, em 2015, entre julho e setembro.

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A situação da economia brasileira anda tão peculiar, no momento, que até alguns indicadores estáveis no tempo estão fugindo ao padrão. A correlação entre o índice de confiança na indústria e produção industrial, por exemplo, é um deles.

Historicamente, a aderência entre as duas curvas, sempre foi muito forte. De uns tempos para cá, porém, as duas trajetórias se descolaram. A partir de de meados de 2015, e, com mais evidência do início de 2016 para cá, a confiança subiu como um foguete e a produção industrial continuou caindo, embora em ritmo menos acentuado.

Dá para ver que, na comparação com o mesmo intervalo do ano passado, a indústria foi descendo a ladeira mais e mais devagar. Ainda assim, o resultado não dá espaço a otimismo. Ainda falta muito para que se possa falar em recuperação da produção industrial.

No primeiro trimestre de 2016, a indústria em geral recuou 11,5% sobre o intervalo janeiro-março de 2015. Depois, no segundo trimestre, a queda ficou um pouco menor, batendo em 6,6% e fechou o terceiro terço do ano, devendo 5,5%, em relação ao produzido no ano passado.

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No importante segmento da produção de bens de capital, a história se repetiu. De uma distância de 28% sobre o volume produção nos primeiros três meses de 2015, a trajetória da indústria de máquinas e equipamentos de produção registrou queda de 10% e de 4,5%, respectivamente, na comparação entre o segundo e o terceiro trimestre, neste ano e noi anterior.

O ritmo mais lento de recuperação da indústria está ajudando a retardar a retomada da economia. É verdade que só os mais otimistas esperavam uma virada no terceiro trimestre. Mas a aposta da maioria era a de que, no quarto trimestre, a economia já ingressaria num terreno positivo, se bem que ainda na fronteira do lado negativo.

Isso já mudou. O nível de atividade deu um drible na confiança e jogou para 2017 o quadro antes imaginado para o fim do ano de 2016. Com isso, as projeções para o comportamento da economia, no próximo ano, ficaram, no geral, mais moderadas.

De algo até se aproximando de uma alta 3%, entre os mais esperançosos, e nas vizinhanças de 2%, no caso dos otimistas com o pé mais no chão (a estimativa do governo é de crescinento de 1,6%), tem havido uma convergência, sobretudo depois dos resultados do terceiro trimestre, para o ponto em que se encontravam os pessimistas, cujas apostas não passavam muito de uma expansão de 0,5% para o PIB, em 2017.

A verdade é que os resultados da economia estão dando um drible nos índices de confiança.

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