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Opinião|Mulheres no comando

No dia 10 de fevereiro, participei do evento que fechava o curso da Advanced Boardroom Program for Women (ABPW), o primeiro curso para formação de conselheiros voltado especificamente ao público feminino feito pela Saint Paul Business School.

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Atualização:
 Foto: Estadão

A primeira turma contou com empresárias, sucessoras e altas executivas com aproximadamente 20 anos de carreira.  Ou seja, profissionais que já viveram muitas situações e desafios em suas vidas profissionais e que visam agora contribuir com empresas a partir de uma perspectiva mais consultiva.

 

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A esperança coletiva é que dali sairiam algumas das futuras conselheiras das empresas brasileiras.  Tarefa ambiciosa, especialmente considerando que no Brasil, somente 7% dos conselheiros são mulheres.  A estatística mundial é mais que o dobro e a meta é chegar aos 30% (de acordo com 30% Club, uma organização que acredita que um melhor balanceamento de gênero nos conselhos gera não apenas melhor liderança e governança, como melhores resultados).

 

A grande pergunta a ser respondida pelo painel de profissionais foi: como fazer para que haja mais mulheres em conselhos de empresa?

 

Abaixo, os principais insights:

 

1) Fazer um bom curso é importante, mas não suficiente

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No curso, foram abordados uma série de assuntos fundamentais para exercer o papel, como melhores práticas em governança corporativa, gestão de riscos e compliance. Conseguir assegurar que a empresa respeite esses padrões é uma das principais atribuições da conselheira. Mas saber a respeito deles não garantirá uma vaga a ninguém.

Não surpreendentemente, a palavra mais mencionada no evento como chave para sucesso nessa carreira foi "network".

 

2) Network, a base de tudo

Já mencionei que network é importante.  Mas não serve um network qualquer.  Precisa ser um network específico para quem quer ser conselheiro. E isso, muitas vezes, custa caro.  Significa participar de congressos nacionais e internacionais.  Significa investir em treinamentos e estar sempre se atualizando.  Significa frequentar lugares/rodar onde donos de empresas frequentam.

 

3) Tenha uma área de expertise, mas entenda do business como um todo

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Ser uma expert em Marketing é ótimo, e há ótimas vagas de Diretora de Marketing para serem preenchidas.   Para preencher uma vaga de conselho, porém, você entender como o Marketing impacta finanças.  E operações.  E compliance.  E como todas essas se alinham para uma visão estratégica de futuro.  Portanto, ao ter conversas com potenciais clientes, mostre a abrangência de seu conhecimento.

 

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4) Seja uma vendedora de enciclopédia

Como eu adoro uma boa estória, adorei quando uma das participantes do painel, contou sobre como os antigos vendedores de enciclopédia vendiam seus produtos porta-a-porta.  Sabendo que seu produto não era dos mais empolgantes, assim que o dono da casa abria a porta, o vendedor de enciclopédia já metia o pé ao lado do batente para evitar que a pessoa fechasse a porta na cara dele.    E essa era a sugestão para as mulheres.  Não deixem que as pessoas fechem a porta na sua cara.  Corra atrás dos seus contatos e não desista.  Da mesma forma que não tinha pessoas ligando para o tal vendedor perguntando se por acaso ele tinha uma letra "M" disponível, as pessoas não vão ligar para você perguntando se você gostaria de ser conselheira de empresa.

 

5) Entenda e valorize seus diferenciais

Os anos onde o conhecimento era o quesito mais valorizado num professional já se foram.  Para isso, Deus criou o Google.  O que o Google ainda não consegue responder são coisas do tipo: "quais as reais motivações do Fulano?" "Como ajudar o Siclano a chegar a um consenso com o resto do time?"  Estamos na era dos chamados soft skills, de criar relacionamentos, de tomar decisões, de analisar um mundo complexo sob critérios que vão muito além dos dados e índices.   E, nesses quesitos, minhas caras mulheres, modéstia a parte nós damos um baile.  E não sou (só) eu (ou centenas de estudos) que digo.

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Além dessas habilidades, outro diferencial que uma mulher pode trazer para um conselho é certo conhecimento de causa.  As mulheres são as grandes administradoras e consumidoras do orçamento familiar.  Elas que tomam decisão sobre que produto ou serviço deve ser consumido pela família.  Ter mulheres no conselho significa ter uma conexão mais próxima com essa realidade, trazendo insights não necessariamente acessíveis aos homens.  Um exemplo citado, que gerou risos na plateia, foi quando a Vicky Bloch contou que ao dar uma palestra para os executivos da Brastemp

 

Retomando a pergunta inicial "como fazer para que haja mais mulheres em conselhos de empresa?", é claro que as empresas tem um papel importante nisso, no sentido de criar incentivos para ascensão das mulheres a cargos executivos que, por sua vez, serviriam como celeiro para novas conselheiras.  Porém, o grande ponto do evento é que tem muitas coisas que estão em nossas mãos. Aprofundar seu autoconhecimento para ter clareza dos seus diferenciais, ativamente desenvolver seu network, continuar se desenvolvendo através de cursos e ter iniciativa para gerar oportunidades são a base do sucesso nesta carreira.

 

Então, se o seu interesse é ser uma conselheira, não há tempo a perder.  Pegue nesse instante a agenda de seu celular e comece a entender quem é - e acionar - seu network.  Conversar com donos ou altos executivos de empresas para entender as necessidades de seus negócios e conseguir comunicar sobre como poderia os ajudar  é onde tudo começa.  E, se não tiver acesso a esse tipo de profissional, não tem problema.  Comece pelo que for possível.

 

Um encontro por semana pode ser um bom desafio inicial. E não se esqueça de se divertir!

 

 Foto: Estadão

Paula Braga

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Paula Braga é daquelas felizardas que pode dizer que ama o que faz, e considera sua missão ajudar às outras pessoas a se sentirem da mesma forma. Coach e autora do blog "MBA de A a Z" do Estadão, Paula também dá pitacos sobre outros temas relacionados a carreiras e realização pessoal.

Opinião por Claudia Miranda Gonçalves
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